Leonardo Fernandes

29 de mar de 2022

Em "Glitch Mode", NCT Dream entrega comeback maduro, mas parecido com contemporâneos

Atualizado: 4 de fev de 2023

Álbum de onze faixas contém altos e baixos, mas unit do NCT consegue fortalecer crescimento

(SM Entertainment/Reprodução)

Dentro do K-Pop, um grupo se torna duradouro caso ele passe por uma progressão de conceito, e amadureça musicalmente. E em quase cinco anos de existência, o NCT Dream evidentemente cresceu tanto em imagem quanto em altura; eles não são mais os mesmos de Chewing Gum. Contudo, mesmo que Glitch Mode seja um comeback forte e com músicas interessantes, há alguns fatores que fazem o álbum não alcançar a nota máxima.

O disco lançado no dia 28 de março contém 11 faixas, que intercalam o já conhecido bubblegum pop do NCT Dream com tentativas curiosas de mudança. Nesse sentido, tais "mudanças" tem a ver com o fato de que a SM Entertainment, neste comeback, cautelosamente aproxima o Dream das demais units do projeto com mais de 20 rapazes uma sonoridade mais parecida com seus contemporâneos.

O álbum começa com as estrondosas Fire Alarm e Glitch Mode (faixa-título), promessas de um trabalho totalmente upbeat e que lembram um pouco alguns lançamentos do NCT 127, por exemplo, como Sticker e Kick It. E sobre a própria música Glitch Mode, é curioso o fato dela progredir conforme o número de ouvidas: o blueprint do NCT Dream de cantar em uníssono no refrão aparece aqui. É uma title divertida e que não cansa, complementada com um bridge banhado no pop rock.

Em seguida, a música Arcade não apresenta nenhuma diferença em relação às anteriores, e a mudança palpável aparece a partir de It's Yours. A quarta canção de Glitch Mode trás uma sensação de nostalgia em relação aos trabalho passados do NCT Dream, e fica evidente nela que o grupo detém dos vocais mais doces e "juvenis" entre as units (grandes créditos para o integrante Haechan, inclusive). Com isso, Teddy Bear aparece como uma das melhores, senão a melhor, música do comeback: a SM mais uma vez dá aula de produção e sobre como usar bem das influências do r&b. Ainda, vale ressaltar que Mark está presente na composição de algumas faixas, e o cantor continua como a força motriz de todo o NCT desde seu debut.

E Teddy Bear é tão diferente na tracklist que salta aos ouvidos. Facilmente seria uma música do SHINee, que são mestres em ter trabalhos neste estilo. Para completar a primeira parte do disco, Replay dá uma complementada na vibe 90s que o comeback pretende entregar (mas que fica, na maior parte do tempo, mais nas roupas dos meninos do que nas músicas).

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Segunda parte do álbum Glitch Mode dá escorregada, mas termina com vontade de "quero mais"

Passadas as seis primeiras músicas de Glitch Mode, a segunda metade do comeback é um tanto quanto questionável. Se o começo do álbum pode ser visto como o início de uma montanha-russa antes da descida, as últimas cinco canções são altos e baixos no projeto inédito do Dream.

Saturday Drip é a música mais esquecível do CD, e este ponto será retomado mais adiante na resenha. Em contrapartida, Better Than Gold é animada e completamente influenciada pelo soul e funk americano, algo que os produtores da SM também são bons em fazer. Entretanto, entra Drive logo depois e o carrinho da montanha-russa permanece no platô outra vez até o final de Never Goodbye. Ambas são músicas que poderiam estar encaixadas em outro lugar da tracklist.

Rewind, para concluir Glitch Mode, consegue unir a miscelânea de alturas e ritmos com certo respiro: não é inovadora, mas cumpre o trabalho de terminar o álbum. Nota que o comeback do NCT Dream é como um gráfico que ascende ao topo do início ao meio, e que depois treme na base para se manter acima? Felizmente o boygroup consegue finalizá-lo com estabilidade (e uma leve vontade de uma versão deluxe, parecida com as primeiras seis faixas).

O principal conflito que o autor da resenha encontrou no álbum foi, justamente, a vontade da SM de querer transformar o NCT Dream em todos os outros grupos da geração. Fire Alarm, Arcade e Saturday Drip são pedras no sapatos desse comeback, que combinariam com outro boygroup, e não o Dream. Mesmo que em menor quantidade se comparadas às outras canções reluzentes do CD, as três músicas apontadas são exemplos do que a SM Entertainment não precisa repetir.

(SM Entertainment/Reprodução)

Alguns podem dizer que a própria Glitch Mode é parecida com as canções lançadas por outros grupos recentemente — a mistura de tecno com pop-rock é a tendência do K-Pop para 2022. Porém, ela é a faixa promocional do projeto, e foi feita para vender. A discografia de um grupo vai muito além do que se torna um videoclipe para vendas, e engloba todas as b-sides e músicas que serão lembradas nos anos seguintes. Não é ideal que o NCT Dream, com uma lista de canções tão ímpar se comparado ao 127 e o NCT U, entre na mistura duvidosa que grupos masculinos da atual geração estão fazendo em outras empresas.

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O Dream não precisa seguir as tendências de outros boygroups. Ele deve ser o NCT Dream, e ponto final, sem tirar nem por. Os membros formam uma aliança harmoniosa, e sinceramente, seria um desperdício por parte da SM se os integrantes perdessem toda a essência "jovem" que demarca a identidade da unit. Mesmo crescidos, eles ainda são aqueles que carregam a essência dreamy de não envelhecer e se tornar igual a todos os outros.

Glitch Mode é um comeback com pinceladas do que o grupo pode fazer a seguir. Caso a SM foque nos pontos fortes que já é detentora, o NCT Dream pode se dar melhor do que se fosse pelo caminho oposto de imitar aqueles que não devem ser imitados. No K-Pop, há exemplos péssimos a serem seguidos atualmente, e um experimentalismo exacerbado não é a cara dos Dreamies.

A progressão e amadurecimento citados no início da review devem ser feitos com cuidado, e Lee Soo-man precisa ficar esperto.

Ouça Glitch Mode do NCT Dream logo abaixo:

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