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[Opinião] 20 anos de TVXQ!: A impressionante longevidade do duo que continua a envelhecer como um bom vinho

Com uma carreira sólida e canções consideradas hinos do k-pop até os dias de hoje, a dupla que já foi quinteto segue rompendo paradigmas.


(Divulgação/SM Entertainment)

A dupla recentemente alcançou a impressionante marca dos 20 anos de carreira em 2023. Após uma trajetória composta por altos, baixos e muito sucesso, o TVXQ! retorna com o disco comemorativo “20&2que promete ser uma viagem que mistura uma estética futurista com referência a atos musicais que marcaram a carreira de Max Changmin e U-Know Yunho enquanto duo.


O grupo estreou oficialmente em 2003 com o single “Hug” no dia 26 de dezembro em uma performance especial de BoA ao lado de Britney Spears, no canal coreano SBS, nesta performance, os recém estreados rookies cantaram "Oh Holy Night" com BoA, seguida da faixa de estreia do boygroup. Naquela época o TVXQ! era composto por Hero Jaejoong, Micky Yoochun, Xiah Junsu, U-Know Yunho e o maknae Max Changmin. 



O single de estreia vendeu mais de 600.000 cópias e é considerado o primeiro grande sucesso do grupo, que garantiu o lançamento do primeiro disco denominado “Tri-Angle” em outubro de 2004, cuja faixa-título de mesmo nome ousou ao misturar rock e pop com música clássica em uma colaboração icônica com BoA e a banda de rock sul-coreana The TRAX


O sucesso instantâneo na Coreia do Sul rendeu uma rápida estréia no Japão em 2004, que configurou um marco não somente para a hallyu como fenômeno cultural, como também para as relações entre Coreia do Sul e Japão. Contudo, um passado complexo não foi o suficiente para impedir que o TVXQ! caísse nas graças do público japonês.


Mesmo após passar por um difícil disband com a saída de Yoochun, Jaejoong e Junsu em 2009, o duo perseverou e permanece lotando arenas e tendo lançamentos bem sucedidos. A dupla segue se reinventando mas nunca perde a boa e velha identidade construída no decorrer destes 20 anos. Mas a pergunta que não quer calar é: Qual será a fórmula desse sucesso?




Uma longa jornada pela terra do sol nascente


O TVXQ! advém de uma bem sucedida jornada da SM Entertainment com boygroups, visto que os renomados antecessores da 1ª geração — H.O.T e Shinhwa — estabeleceram um cenário favorável ao desenvolvimento de artistas pop masculinos na Coreia do Sul. Contudo, havia planos diferentes para a 2ª geração, que visava atingir outros patamares com o fortalecimento da indústria do entretenimento para além das fronteiras nacionais.


Com o surpreendente sucesso de BoA no Japão, a possibilidade de expandir a hallyu para um país cuja indústria do entretenimento já era extremamente desenvolvida parecia uma decisão empolgante, apesar de arriscada. Além da possibilidade de ter que competir com os grandes nomes japoneses, havia o infame histórico de ocupação forçada que desestabiliza até hoje as relações entre Coreia do Sul e Japão.


Entretanto, ao assumir tais riscos, a SM Entertainment optou por debutar o TVXQ! no Japão com menos de um ano após a estreia oficial do quinteto na Coreia. Em 2005, os novatos lançaram o single nipônico "Stay with Me Tonight", uma versão internacional da faixa “Hug” e o lançamento oficial do disco “Tri-Angle” no Japão, mas não foram bem recebidos pelo público japonês logo de início.



Ainda assim, o quinteto persistiu e lançou os singles japoneses "Somebody to Love" e "My Destiny" enquanto promoviam o segundo disco coreano denominado “Rising Sun” que foi uma febre no país ficando em primeiro lugar nas vendas mensais e em quarto nas vendas anuais. O disco foi tão aclamado que em 2007 teve suas vendas expandidas para países estrangeiros, iniciando uma nova era para a comercialização de CDs físicos de artistas de k-pop no exterior.



O período que antecedeu o lançamento do primeiro disco japonês foi composta pela preparação dos membros no aprendizado de idiomas para que pudessem estar aptos a primeira turnê internacional do grupo, a denominada “1st Asia Tour – Rising Sun” contou com 4 apresentações na Coreia do Sul, 1 na Tailândia e 1 na Malásia, sendo os primeiros artistas coreanos que performaram no país.


Neste meio tempo, a agenda lotada de compromissos internacionais também reuniu participações em programas da Malásia, Tailândia, China e Japão, desde o início da indústria esta foi a primeira vez em que um grupo estreante arriscava voar tão longe. 


O primeiro disco japonês e a primeira turnê exclusiva para o país vieram em março de 2006 após intensos investimentos na imagem internacional do grupo. O EP Heart, Mind and Soul” foi lançado pela gravadora nipônica Avex Trax — responsável pelos lançamentos japoneses do grupo até hoje — em parceria com a SM Entertainment. Divididos entre investimentos na carreira japonesa e sucessos recordistas na Coreia do Sul, o TVXQ! se viu pela primeira vez enquanto um grupo internacional, ao ponto de serem eleitos "Embaixadores da Ásia" pela Universal Studios Japan em 2008.




Recordes, expansão e um toque de direitos trabalhistas


É inegável que o grupo não teve um único momento da carreira entre 2005 e 2009 que não fosse dedicado ao sucesso surpreendente, aos incontáveis recordes quebrados e aos tantos títulos pioneiros conquistados. Sem uma trajetória tão intensa que conta com recordes de vendas físicas e digitais, provavelmente a indústria do entretenimento sul-coreana não teria avançado tanto. O TVXQ! teve a honra de receber prêmios dentro e fora da Coreia, além de terem a faixa "Share the World/We Are!" usada como tema da 11º abertura do anime One Piece.



O quinteto foi o primeiro a ter um concerto no tão sonhado Tokyo Dome com a turnê “Tohoshinki 4th Live Tour 2009: The Secret Code”, fator que possibilitou outros artistas como EXO e BTS a realizarem o mesmo feito muitos anos mais tarde. Tudo isso sem abrir mão de uma identidade estética mais próxima das tendências musicais e de moda que estavam em alta no leste-asiático em meados dos anos 2000, a negação das trends da música pop americana provavelmente foram um diferencial para que o grupo chegasse tão longe no continente asiático.


No icônico “Mirotic” os visuais arrojados que se aproximavam das estrelas do j-rock com os famosos penteados fora da caixinha, calças justas e jaquetas foram substituídos por camisas decotadas, cortes mais simplistas e um ar de sensualidade jamais visto antes nos lançamentos do TVXQ!. Entretanto, o lançamento pareceu não agradar muito a Comissão Coreana de Proteção da Juventude, que classificou a canção como prejudicial para os jovens e declarou que as letras eram provocantes e excessivamente sexuais.



Consequentemente, o álbum recebeu etiquetas indicativas de inadequação para menores de 19 anos, e quaisquer apresentações da música deveriam ser transmitidas após as 10 horas. Entretanto, a decisão não prejudicou o sucesso, visto que o disco foi uma expressão da maturidade e uma forma de demonstrar a transição de garotos para homens adultos. Uma tática muito bem sucedida que rendeu vendeu 300.000 cópias somente na pré-venda, batendo o recorde de "álbum mais vendido na primeira semana", que antes pertencia à Seo Tai Ji and Boys desde 2004.


A alternância entre recordes na Coreia do Sul e recordes no Japão garantiu estabilidade para o grupo no que diz respeito aos lançamentos, turnês e vendas. Entretanto, o essencial ainda era uma questão que beirava um gigantesco tabu que ainda vem sendo quebrado aos poucos na indústria da hallyu: os direitos trabalhistas para idols.


Em 2010 os integrantes Jaejoong, Yoochun e Xiah Junsu entraram com um processo equivalente a 3 bilhões de won contra a SM Entertainment para encerrar o contrato irregular com duração de 13 anos. O trio alegou contrato abusivo, baixos salários e péssimas condições de trabalho, sendo assim, exigiram uma compensação monetária de 1 bilhão de wons para cada um, equivalente aos lucros que a companhia fez em cima do nome do grupo e não repassou aos membros


O processo revelou um lado ainda oculto da indústria, expondo as incontáveis problemáticas que envolviam a distribuição de lucros entre os membros e a empresa. Assim como, o contrato que beirava a escravidão com 13 anos de duração que levavam os membros do TVXQ! a cumprirem um longo período na empresa até haver a possibilidade de tomar rumos diferentes ou exigir mudanças no contrato base.


Somente U-Know Yunho e Max Changmin permaneceram na agência e acabaram retornando como TVXQ! na formação de dupla em novembro de 2010 após meses de hiatus devido a controvérsia envolvendo o disband. Ainda assim, foi graças ao processo que muitas questões envolvendo distribuição de lucros e períodos toleráveis para duração de contratos de idols passaram a ser revisados e apreciados pela justiça do trabalho no país.




De volta como uma fênix: O TVXQ! torna-se um duo capaz de preencher o palco com energia e talento


Mesmo com o disband e uma diferença de 3 anos desde o último lançamento coreano, o TVXQ! se mostrou capaz de brilhar como uma dupla formidável no poderoso disco “Keep Your Head Down”, lançado em janeiro de 2011. O disco conta com uma poderosa faixa-título de mesmo nome ao lado de uma coreografia que prova que Changmin e U-Know não vieram para brincar.



O álbum alcançou a posição de liderança na parada da Gaon Charts duas semanas após seu lançamento. A Gaon reconheceu o álbum como o mais vendido do ano até a data, registrando um total de 230.922 cópias vendidas de janeiro a junho de 2011, além disso, a versão repackaged, que inclui faixas inéditas, obteve a 9ª posição na mesma parada.


No ano seguinte, o TVXQ! realizou sua primeira turnê solo japonesa após quase três anos, que gerou uma procura chocante e o esgotamento imediato dos ingressos. Deste modo, a busca foi tanta ao ponto de necessitar de mais datas para atender a demanda que resultou em um público total de aproximadamente 550.000 pessoas no total. A quinta no Japão, rendeu mais um marco na história do grupo, como os terceiros artistas estrangeiros — depois de Michael Jackson e dos Backstreet Boys— para se apresentar no Asia's Dream Stage, Tokyo Dome, por três dias consecutivos, atraindo multidões de mais de 165.000 pessoas no total.


O sexto disco coreano denominado “Catch Me” foi lançado em meados de setembro de 2012, tendo como resultado a primeira turnê mundial da dupla, intitulada “TVXQ! Live World Tour: Catch Me”. O disco trouxe uma repaginada no estilo musical que vinha sendo explorado pelo grupo nos últimos anos e trouxe consigo fortes influências do EDM que estava em alta no k-pop. Além disso, um visual mais maduro, que transmitia a evolução dos integrantes que estavam celebrando seu 9º aniversário de carreira naquele ano.



Já em 2013, com o lançamento do sétimo disco “Tense” celebrando os 10 anos de uma sólida carreira para o TVXQ!, a estética e o estilo musical se desvincularam completamente das tendências musicais da indústria na época ao apostar no swing jazz não somente para a title Something”, mas também para as b-sides do disco.



O álbum recebeu um repackage denominado “Spellbound” tendo como faixa principal a canção “Spellbound (수리수리)” que investiu mais uma vez na maturidade do swing jazz que possibilitou um aproveitamento impressionante das vozes de Yunho e Changmin, assim como provou não necessitar de tendências para tornar-se popular.



O TVXQ! manteve-se em alta e celebrou seu aniversário de 10 anos de carreira com o lançamento do 8º álbum de estúdio japonês “With”, a turnê mundial “Tistory: Special Live Tour” e o anúncio da exibição das estátuas de cera da dupla no icônico Madame Tussauds em Xangai, na China.


Após um ano cheio de celebrações e conquistas gloriosas, a dupla com a carreira mais duradoura da Coreia do Sul anunciou o lançamento do disco especial “Rise as God” o oitavo lançamento coreano que veio para anunciar uma breve despedida devido ao alistamento militar de Yunho e Changmin em 2015. Tendo como faixas principais as canções solo “Rise as One” de Changmin e “Champagne” de U-Know, o TVXQ! se despediu dos fãs e do público sem stages e deixando fãs ansiosos pelo retorno e possíveis atividades solo após o serviço militar.




O epítome da maturidade: o TVXQ! prova que não existe idade limite para brilhar como estrelas


Na Coreia do Sul, a passagem pelo serviço militar obrigatório é vista quase como um rito de passagem pelo qual rapazes precisam passar para se tornarem “homens”, mesmo que a data limite para o alistamento seja de 30 anos de idade. Sendo assim, é quase cultural entre homens coreanos tomarem este momento como uma fase de ruptura e amadurecimento pessoal, ao encerrar o serviço militar, Changmin e U-Know puderam mostrar ao público a nova proposta do TVXQ! assim como grupos veteranos como o Shinhwa também fizeram anteriormente. 



Por se tratar da única dupla ao ultrapassar a marca dos 10 anos de carreira e ser o segundo boygroup a chegar aos 20 anos de forma contínua, é de se esperar que o amadurecimento estético e musical se torne um ponto factual para determinar uma nova fase do grupo. Renovar-se sem perder a essência original tem sido o lema do TVXQ! durante esses 20 anos de existência, mesmo com as constantes mudanças na indústria musical e com o surgimento de novos recordes a serem batidos ou formas de divulgação.


A dupla provou através dos bem sucedidos lançamentos nipônicos e os marcantes discos coreanos lançados após a dispensa militar que são maiores do que as métricas de redes sociais ou recordes de vendas são capazes de contabilizar. O título de “Reis da Ásia” não veio à toa, são 20 anos de conquistas e barreiras rompidas para que grupos da 2ª, 3ª, 4ª e até mesmo 5ª geração fossem capazes de desfrutar do impacto da hallyu no exterior.


O lançamento de “20&2” na reta final de 2023 não veio como uma tentativa de fazer sucesso em plataformas de streaming de música ou quebrar recordes de vendas no final do ano. Trata-se do respirar artístico de uma dupla consagrada que celebra uma dura e vitoriosa trajetória na tão complexa indústria do entretenimento sul-coreana. As faixas “Down” e “Rebel” são uma demonstração de tudo que o grupo tem feito nos últimos 20 anos e exploram de forma magnífica as capacidades e talentos que Changmin e U-Know seguem capazes de demonstrar até os dias de hoje, como homens maduros que não se rendem aos novos nomes por duas décadas a finco. 




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