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Review | aespa, em "Armageddon", é o apocalipse para girlgroups medianos e fracos do K-pop

Após o smash hit "Drama", grupo retorna à indústria com disco que as coloca na vanguarda de um gênero condenado

Review | aespa, em "Armageddon", é o apocalipse para girlgroups medianos no K-pop
(SM Entertainment/Reprodução)

Poucos girlgroups da atualidade, no K-pop, são tão interessantes quanto o aespa. O Armageddon, primeiro full album do quarteto, foi divulgado nas plataformas digitais esta segunda-feira (27) com uma missão: delimitar quem pode, e quem não tem a mínima capacidade de tentar, equiparar-se à criatividade das quatro atuais estrelas da SM Entertainment.


E a régua está lá em cima. Com o lançamento do EP Drama no final de 2023, as expectativas para o retorno das cantoras eram, no mínimo, aterradoras. Contudo, o conjunto foi capaz de entregar um projeto coeso e louco, ameaçador e visceral ao talento de Karina, Ningning, Winter e Giselle. Com dez músicas, o aespa em Armageddon pôde içar vela contra a maré de lançamentos fracos no K-pop, vindos de empresas que duvidam da capacidade dos próprios girlgroups de serem bons.




Este comeback é ousado e plural, positivamente complexo na hora de mostrar diversas facetas do aespa ao fandom em constante crescimento. Aqui, as meninas deram um passo adiante em sua trajetória musical já instigante e firme.


O aespa, em Armageddon, sabe que a música eletrônica é sua maior arma


O conceito de Armageddon, em linhas gerais, discorre da presença de seres de outro mundo explorando a Terra e as possibilidades de um novo universo. E neste aspecto, o aespa são jovens com super-habilidades que superaram seus inimigos. Com a I.A. Naevis fora do jogo, as artistas são apresentadas à nossa realidade pelo divertido MV de Supernova.


O single que abre o comeback salienta como a música eletrônica está no DNA do aespa. Produzida pelos veteranos Dem Joinz — donos de alguns dos maiores hits da SM —, a faixa traz o frenesi do synthpop na produção. Inquieta e viciante, a canção dance carrega o sample da emblemática Planet Rock do DJ Afrika Bambaataa no brigde; uma quebra instrumental que nos remete à genial Next Level, também do aespa.




E se uma faixa tão frenética já não era o bastante, a title track chega ao ouvinte na hora certa. O aespa, em Armaggedon, contrapõe a amostra anterior com algo que transborda hyperpop e vaporwave. Apesar de não considerar esta uma canção tão forte quanto Supernova, a faixa-título cumpre a missão de dar o tom ao comeback: o pop e o experimentalismo mesclados numa salada absurdamente suculenta do menu disposto.


E é claro que Set The Tone, também atrelada aos subgêneros mencionados, é uma música que salta aos olhos na tracklist. Nisso, é óbvio que o disco é muito referencial — ao menos nas primeiras músicas — aos projetos da vanguarda formada por nomes como A.G. Cook, Easyfun, COBRAH, Charli XCX e Shygirl. Set The Tone, obviamente, é uma das joias do disco para mim.


Mine e Licorice seguem a mesma receita, igualmente boas para trilhar a jornada feita pelo aespa em Armageddon; a segunda até flertando com o pop rock. Inclusive, os fãs do girlgroup que se encantaram na época de Savage vão revisitar esta faceta do aespa aqui: um grupo cuja base de seu conceito está nas raves, no electropop e no grandioso legado de Sophie Xeon.



Perder-se na trajetória faz parte, e o comeback do aespa sabe recalcular o caminho


A segunda metade do álbum pode perder alguns ouvintes mais exigentes, mas vejo como uma maneira do aespa equilibrar a pluralidade musical do release. BAHAMA, por exemplo, é o puro pop chiclete — alguns vão amar, e outros, odiar. Porém, dá para matar a saudade de Better Things e rememorar que estamos próximos do verão sul-coreano: grupos da SM necessitam de canções feitas para a estação mais quente do ano.


Aqui, apenas Long Chat e Prologue poderiam, sem hesitação, ser retiradas do retorno do aespa com Armageddon. As duas músicas soam como descartes do Red Velvet (alô, já estou com saudades...), o que não é um problema at all, mas um álbum tão forte como o Armageddon poderia muito bem ter duas faixas tão estrondosas quanto as iniciais para domar as ondas tempestuosas deste CD.


Review | aespa, em "Armageddon", é o apocalipse para girlgroups medianos e fracos do K-pop
(SM Entertainment/Reprodução)


Apesar disso, Live My Life traz o gostinho do rock mais teen que vimos no K-pop nos últimos dois anos, o que considero um bônus legal. Nem só de sintetizadores vivem os artistas, e assistir ao aespa testando algo "diferente" do >seu< usual é sempre instigante.


Para finalizar o disco, Melody surge como o apoteótico final que o aespa merecia nesse álbum. É a música "padrão SM de qualidade": uma balada romântica que destaca, acentua e celebra os vocais eletrizantes que a empresa é capaz de colher. É uma canção maravilhosamente feita, interpretada por quatro artistas de vozes estonteantes. E mesmo que Armageddon comece a partir do ritmo das boates europeias e do feitiço capaz de ser conjurado com o EDM, Melody termina o CD apontando o dedo no seu rosto: o aespa pode fazer o que quiser.


O aespa orgulhosamente mostra como estruturar um conceito e inovar em paralelo


Estamos falando de um comeback que, ao lado de Savage e Drama, vai demarcar a identidade do girlgroup na mente do público. O aespa, no Armageddon, detona o que vemos acontecer desde sua estreia: a estrutura de um conceito em que tudo se amarra. Não há teasers soltos, ou músicas que nos fazem estranhar (e falo isso até em relação às que menos gostei), ou um universo moldado para "nada".


O aespa tem DNA. E isso falta muito no K-pop atual, desgastado e condenado. A geração vigente assiste a um "efeito de manada" de grupos que descaradamente se copiam, diretores criativos que são preguiçosos demais para inovar, e fã-clubes contentes em acompanhar K-idols despreparados para fazer o mínimo nos palcos (e pagando muito dinheiro por isso).




É com atitude e insistência que se constrói um legado, independente dos números feitos de maneira orgânica ou não. Armageddon coloca o aespa na elite da 5ª geração, formado por quatro garotas talentosas e uma empresa que, para o bem ou para o mal, continua à frente das tendências ditadas; nunca é só "o básico bem-feito".


Será que este é o auge do aespa? Será que, no futuro, elas vão superar a obsessão e o deslumbre gerados no público neste comeback? Por ora, a resposta é desconhecida, mas uma coisa é certa: o grupo, e outros seletos atos do K-pop de hoje, vão trazer de volta os fatores que nos fizeram acompanhar um gênero que já foi um escape do comum — agora ditado por monopólios nunca interessados na arte, mas sempre no farm de números invisíveis.


E o sucesso que o aespa está alcançando nas paradas musicais? Se não existisse, Armageddon seria tão fantástico quanto agora, de todo jeito.


Sim, aespa, vocês "deram o tom" para as mais fracas.



Ouça Armageddon do aespa logo abaixo:



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