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"Ainda Estou Aqui" e a Lei Marcial na Coreia: Produções que abordam a luta pela democracia no Brasil e na Coreia do Sul

Enquanto o Brasil aclamava o filme que deu a Fernanda Torres um Globo de Ouro, a Coreia enfrentava uma tentativa de Golpe Militar em pleno 2024

Divulgação: Sony Pictures International Productions/Showbox Co., Ltd. )

(Divulgação: Sony Pictures International Productions/Showbox Co., Ltd.)


O sucesso do novo filme do diretor brasileiro Walter Salles tem chamado a atenção após sua estreia no ano passado. No último domingo (5 de janeiro), a atriz Fernanda Torres conquistou um Globo de Ouro como Melhor Atriz em Filme de Drama pelo seu papel em "Ainda Estou Aqui" na cerimônia realizada em Los Angeles.


A trama aborda as consequências da ditadura militar para a família do ex-deputado Rubens Paiva, cujo mandato foi cassado em 1964 em decorrência do Ato Institucional Nº 1. O filme acompanha a luta de Eunice Paiva (Fernanda Torres) em prol da democracia e pelo reconhecimento da morte do marido nas mãos dos torturadores durante a ditadura.



A também aposta do Brasil para o Oscar conquistou aproximadamente 49,1 milhões de reais em bilheteria, tornando-se o segundo filme com maior arrecadação entre as produções nacionais nos cinemas pós-pandemia. O reconhecimento desta parte obscura da história do Brasil tem sido extremamente necessário para combater o negacionismo e manter viva a memória daqueles que lutaram pela democracia.


Mas, enquanto o Brasil recordava um dos períodos mais violentos da nossa história, a Coreia do Sul enfrentava uma tentativa de Golpe Militar através da imposição de uma Lei Marcial. A Lei Marcial estabelece um governo temporário pelas autoridades militares, removendo por completo o poder decisório das autoridades civis, e gera a suspensão direitos civis e políticas garantidos pela Constituição do país.



As motivações da declaração de Lei Marcial: Entenda a tentativa de Golpe na Coreia do Sul e suas consequências


A iniciativa fracassada partiu do presidente Yoon Suk-yeol, eleito em 2022 em uma das disputas presidenciais mais acirradas da Coreia do Sul. Com uma linha política vinculada a um conservadorismo ferrenho, Yoon Suk-yeol chegou a presidência como um novato na carreira política. Ele obteve fama como promotor do processo de corrupção contra a ex-presidente Park Geun-hye em 2016, que resultou em impeachment no mesmo ano.


O perfil do atual presidente sul-coreano chegou a ser comparado ao histórico do ex-ministro da justiça, atual senador do estado do Paraná, Sergio Moro, que também ingressou na carreira política após a ascensão devido ao processo (parcialmente fracassado) de prisão de Lula, atual presidente do Brasil em seu terceiro mandato.


Apesar de ter conquistado sua primeira eleição logo de primeira, a gestão de Yoon Suk-yeol enfrenta severas crises políticas desde o início de seu mandato, em especial, devido às gafes cometidas durante e após a campanha eleitoral e as posturas agressivas em relação à reunificação com a Coreia do Norte. No entanto, sua postura ultra-conservadora vinculada ao crescente movimento anti-feminista garantiu certo apoio político entre uma maioria masculina.


Os inúmeros escândalos, incluindo acusações de corrupção contra a primeira-dama Kim Keon Hee, a queda drástica de aprovação do governo para os míseros 17%, e a posterior vitória parlamentar da oposição composta pelo Partido Democrático deixaram Yoon na posição de um presidente sem influência no parlamento e sem possibilidade de reeleição.

A tentativa de declaração de Lei Marcial veio, então, por sua insegurança política.


Usando a desculpa esfarrapada de “ameaça comunista”, utilizada pela extrema-direita global por décadas a finco, ele chegou a declarar a Lei Marcial em 4 de dezembro, mas o parlamento coreano reverteu a medida na mesma madrugada. Como consequência da atitude desesperada e dos inúmeros protestos que lotaram as ruas de Seul, o presidente teve seu impeachment aprovado em uma votação realizada no dia 13 de dezembro, na qual 204 dos 300 deputados votaram a favor.


"Ainda Estou Aqui" e a Lei Marcial na Coreia: 4 Produções que abordam a luta pela democracia na Coreia do Sul e no Brasil


O Motorista de Táxi (2017)


O drama político foi um dos lançamentos mais aclamados do cinema sul-coreano em 2017, estrelado por Song Kang-ho no papel do protagonista Kim Man-seob e baseado em uma história real que se passa na ditadura militar sul-coreana. Na trama, um motorista de táxi de Seul acaba imerso em eventos que resultaram na Revolta de Gwangju (1980).


No entanto, a revolta não foi o único fato histórico que inspirou a película. Ela retoma interações do jornalista alemão Jürgen Hinzpeter com o motorista Kim Sa-bok. Os jornalistas estrangeiros foram de suma importância para a disseminação de notícias que informavam o mundo sobre o que estava acontecendo na Coreia do Sul, afinal, os grandes veículos de mídia do país passavam por duras censuras, assim como no Brasil.


A Revolta de Gwangju foi um grande levante popular que ocorreu na cidade sul-coreana de Gwangju, do dia 18 à 27 de maio de 1980. O evento, que reunia estudantes do ensino médio, universitários e trabalhadores, pedia a volta da democracia e o fim das constantes violações dos direitos humanos, mas acabou sendo alvo de duras repressões que acabaram em um massacre em massa da população por parte dos militares. Estimativas recentes apontam que aproximadamente mais de 600 pessoas foram mortas no massacre.




O Que É Isso, Companheiro? (1997)


Um dos grandes clássicos do cinema brasileiro, dirigido por Bruno Barreto e estrelado por Fernanda Torres, Pedro Cardoso e Selton Mello. O drama baseado em fatos reais narrados no livro de memórias homônimo do político Fernando Gabeira, aborda o sequestro do Embaixador dos Estados Unidos, por membros de dois grupos guerrilheiros da esquerda brasileira, o MR-8 e a Ação Libertadora Nacional, que lutaram contra o regime repressor da Ditadura Militar.


O filme chegou a concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1979. Na época retratada, o ano de 1969, os sequestros de Embaixadores era um evento relativamente frequente que, liderado por guerrilheiros, visava a libertação de presos políticos em troca da liberação do refém. Uma parcela significativa dos responsáveis pelos sequestros acabavam sendo presos, torturados e mortos pelo regime, que só teve seu fim declarado em 1985.




12.12: O Dia (2023)


O atual representante sul-coreano na disputa pela indicação na categoria de Melhor Filme Estrangeiro é um drama político dirigido por Kim Sung-su e estrelado por Jung Woo-sung, Jung Haein e Lee Jun-hyuk. O filme acompanha a crise enfrentada pela Coreia do Sul após o assassinato do presidente Park Chung-hee em 1979, que gerou a aplicação da Lei Marcial, resultando o golpe militar.


Na trama, o General Chun Doo Gwang e seus oficiais prendem o Chefe do Estado-Maior do Exército sob alegação de envolvimento com a morte do presidente, resultando em um cenário de instabilidade política. No entanto, o comandante Lee Tae Shin, interpretado por Jung Woo-sung, reúne forças para tomar uma posição contra o golpista a fim de evitar a tomada de poder por parte dos militares.


Recentemente, o filme tornou-se uma febre na Coreia do Sul, tornando-se um dos mais assistidos na Netflix sul-coreana devido aos acontecimentos referentes à tentativa de golpe em novembro deste ano. O filme será lançado nos cinemas brasileiros em 9 de janeiro de 2025, com distribuição da Sato Company.




Os Dias Eram Assim (2017)


A série da Globo foi exibida na emissora de abril a setembro de 2017 no horário nobre, com roteiro assinado por Angela Chaves e Alessandra Poggi. Estrelado por Sophie Charlotte e Renato Góes, trata-se de um romance dramático que acompanha a conturbada paixão de Alice e Renato durante os tempos de chumbo da ditadura militar no Brasil.


Com o Rio de Janeiro dos anos 70 como plano de fundo, a trama perpassa os períodos mais duros da repressão até a reabertura política do Brasil. Apesar do romance proibido entre Alice e Renato ser o ponto principal da história, os acontecimentos políticos do país impactam diretamente a trama.


Alice e Renato se conhecem em 21 de junho de 1970, dia em que o Brasil é tricampeão do mundo, apesar de possuírem origens diferentes. Alice é uma estudante apaixonada por fotografia e questionadora do regime, mesmo sendo filha de pais ricos e ultra-conservadores. Renato é um médico residente da classe média de Copacabana, filho de um professor universitário já falecido com uma dona de livraria.












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