Evento trouxe bate-papos com Thais Midori, Gaby Brandalise e Hwang Bo-reum sobre a crescente popularização da literatura sul-coreana
Por: Joyce Oliveira e Rafaella Moreira
(Divulgação / Bienal do Livro via Facebook)
A Bienal do Livro 2024, que ocorreu de 6 a 15 de setembro em São Paulo, mais uma vez trouxe a literatura coreana para o evento. Este ano, um dos destaques da feira literária foi estande temático da editora Rocco, dedicado ao livro "Amêndoas" da autora Won-pyung Sohn. Já no estande da editora NewPOP, quem marcou presença foram os famosos manhwas, incluindo edições do “Navillera”, que inspirou o K-drama de 2021.
Além disso, a Bienal trouxe agendas específicas para os amantes da literatura coreana: uma entrevista com a autora de "Bem-vindos à livraria Hyunam-dong", Hwang Bo-Reum, e um bate-papo com a influencer Thais Midori e a autora brasileira Gaby Brandalise, que juntas escreveram o livro "Meu pop virou K-pop". O Café com Kimchi esteve presente nas duas programações e vamos contar tudo o que rolou.
Gaby e Midori na Bienal do Livro: os impactos do K-pop para a expansão da cultura e literatura coreana no Brasil
(Reprodução / Editora Intrínseca / Editora Astral Cultural )
A Skeelo, aplicativo de livros digitais e patrocinador da Bienal, proporcionou um bate-papo entre Gaby Brandalise e a influencer Midori no dia 9 de setembro. No painel "K-livros", elas apresentaram seu livro “Meu pop virou K-Pop” ao público, além do novo projeto literário da Gaby, “Minha vida é um k-drama”. As duas autoras também discutiram sobre a popularidade da cultura coreana no Brasil, de como ela se expandiu a partir do K-pop e abriu o caminho para a literatura.
Midori contou aos presentes os objetivos por trás da criação do seu canal no Youtube, que se dedica a explorar a cultura coreana e K-dramas. Ela mencionou que, inicialmente, não se preocupou com o fato de o tema ser considerado nichado. Quando questionada se ainda considera um nicho ou se a Hallyu conseguiu romper essa barreira, Midori disse acreditar que sim, e que alguns eventos ajudaram a cultura coreana a furar a bolha. Como resultado, o canal dela cresceu, refletindo a crescente curiosidade pela K-culture.
A autora Gaby Brandalise expressou uma opinião semelhante acerca do rompimento dessa bolha. Ela relatou que, ao escrever sua nova obra, ela se perguntou se o público ainda estava interessado em temas relacionados à cultura sul-coreana; para sua grata surpresa, descobriu que sim. Gaby mencionou que até mesmo sua avó assiste a K-dramas, destacando como esse fenômeno está se consolidando no Brasil.
Quanto ao K-pop, Midori comentou que o gênero tem ajudado as pessoas a conhecer melhor a Coreia do Sul. Ela mesma foi introduzida à cultura sul-coreana através da música e dos K-dramas, que despertaram seu interesse em compreender mais sobre o país. Falando sobre xenofobia, Gaby revelou acreditar que grande parte do preconceito existe porque muitos não se dão ao trabalho de entender a cultura antes de emitir comentários maldosos e discursos de ódio.
O bate-papo também abordou os enredos coreanos e desmistificou a ideia de que homens coreanos são semelhantes aos personagens dos doramas. Sobre a expansão da literatura e da produção literária no Ocidente, Midori observou:
"Eu penso que [o interesse das pessoas pela K-culture] está aumentando, não caindo [...] O consumo da cultura coreana não caiu, então acho que o mercado literário vai refletir isso” - Gaby Brandalise.
Midori destacou que muitas das novas autoras nacionais são fãs que consomem dramas coreanos, mostrando que pode existir uma influência da cultura sul-coreana na literatura brasileira. Ela ainda observou que a demanda por livros de autores coreanos está aumentando, não apenas para obras que refletem romances coreanos, mas para uma gama mais ampla de literatura asiática. Muitos livros coreanos apresentam, por exemplo, uma narrativa que oferece uma "ajuda ficcional", um conceito muito popular por lá.
Gaby expressou seu desejo de que a literatura coreana ganhe o mesmo espaço na cultura pop que os animes e mangás japoneses. Ela espera que esse mercado se consolide e se estabeleça no Brasil. A autora também abordou os desafios de escrever histórias inspiradas na cultura sul-coreana, ressaltando o cuidado que toma para evitar a fetichização dos personagens, e enfatizou seu amor e respeito pela cultura.
Hwang Bo-reum, autora de 'Livraria Hyunam Dong', participa de bate-papo sobre livros que curam
(Reprodução / Hwang Bo-rem via Instagram)
Hwang Bo-reum, uma ex-engenheira de software da LG, sempre teve o sonho de se tornar escritora. Na 27ª edição da Bienal do Livro de São Paulo, a autora participou de um bate-papo com seus fãs, que estavam curiosos para entender as inspirações por trás de seu livro, "Bem-vindos à Livraria Hyunam-dong". Surpreendentemente, as motivações e inspirações de Bo-reum são mais simples do que muitos imaginam.
Durante o evento, Paulina Cho, a mediadora do bate-papo, guiou a conversa com questões te levantadas pelos fãs. Quando perguntada se a personagem principal da 'Livraria' era baseada nela mesma, Bo-reum explicou que tentou escrever livros centrados em sua vida e experiências pessoais, mas esses projetos não foram bem-sucedidos. No entanto, ela observou que todo autor acaba incorporando um pouco de si em seus personagens.
Bo-reum também revelou que não esperava o sucesso de seu livro: "Quando escrevi, meu único objetivo era publicar, e não sabia que iria vender tanto. Eu não esperava estar aqui hoje." Ela compartilhou um pouco sobre as dificuldades enfrentadas ao deixar seu emprego como engenheira para se dedicar à escrita. Em outras entrevistas, ela reiterou sua decisão de abandonar a carreira de programadora, afirmando:
"Uma das razões pelas quais deixei meu trabalho foi porque não via sentido no que estava fazendo. Mesmo em grandes projetos, eu sentia que estava à margem. Saí da empresa em busca de algo que não sabia exatamente o que era, mas tinha certeza de que queria fazer algo significativo. Agora, como escritora, sinto-me satisfeita com minha vida."
Ainda sobre suas inspirações, Bo-reum revelou que seu desejo era escrever e publicar um romance, sem saber exatamente por onde começar ou como terminar. Ela simplesmente escrevia e seguia o que a história pedia. A protagonista Yeong-ju não foi inspirada em ninguém em particular, mas contém traços da própria autora. Além disso, Min-jun, inicialmente pensado apenas como um barista, acabou ganhando mais profundidade durante o processo de escrita, revelando mais sobre sua trajetória do que o planejado.
A autora também contou que sempre se preocupou com a forma como a história chegaria aos leitores, por isso está constantemente acompanhando os comentários e as percepções individuais sobre o livro. Ela expressou surpresa com o potencial da sua escrita para inspirar e encorajar as pessoas. A autora revelou que gosta de ver o impacto que o livro tem sobre os outros e agradeceu aos fãs de todo o mundo, especialmente aos fãs brasileiros, por proporcionarem experiências tão incríveis. Ela afirmou que gostaria muito de poder dizer algo pessoal a cada fã que compartilha suas histórias e a utiliza como inspiração.
Também foi assunto na Bienal: o avanço da literatura coreana e o gênero "Healing Fiction"
(Cobertura / Café com Kimchi)
"Bem-vindos à Livraria Hyunam-dong" está encaixado em uma categoria conhecida como "Ficção de Cura" ou "Healing Fiction", em inglês. As histórias deste gênero literário se passa em ambientes acolhedores, proporcionando uma imersão no desenvolvimento dos personagens e nas suas relações humanas. Semelhante aos K-dramas, essas histórias oferecem reflexões profundas e aquele agradável "quentinho no coração" durante a leitura.
Não apenas este livro, mas também outras obras renomadas da literatura coreana, como "A Incrível Lavanderia dos Corações" e "A Inconveniente Loja de Conveniência", têm destacado esse gênero. A literatura asiática vem conquistado cada vez mais espaço e atraído um público crescente, e esse fenômeno fica claro com eventos como a Bienal do Livro de SP, que trazem de autores e influenciadores de conteúdos sobre o tema.
A Bienal do Livro, na sua edição de 2024, teve dois dias dedicados à interação de leitores e autores nesse segmento. No próximo ano, espera-se que a projeção e a valorização da cultura asiática nos paineis seja ainda maior, e o Café com Kimchi deve estar presente para acompanhar tudo mais uma vez!
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