Primeiro álbum do cantor foi divulgado no dia 28 de agosto, recheado de referências ao grunge e indie rock
(SM Entertainment/Divulgação)
Mudar é preciso. No mundo do K-pop, a mudança de conceito de um grupo ou solista é algo visto com curiosidade e excitação, mas o gênero ou posição dos artistas seguirão os mesmos. Mas e quando você altera as convenções que te fizeram debutar? É isso que o Chanyeol faz em BLACK OUT, o primeiro álbum de sua carreira solo.
Divulgado no dia 28 de agosto, o EP dá luz ao tão aguardado debut individual do artista, empurrado com a barriga pela SM Entertainment ao longo dos anos. O motivo para adiar? Nunca saberemos, visto que Chanyeol sempre esteve pronto para brilhar sozinho. Contudo, o lançamento denota a habilidade do cantor em divulgar um projeto libertador das amarras estabelecidas em sua estreia há doze anos.
Não é um disco perfeito, mas é uma obra de arte verdadeira. Com influência do grunge, do indie e brincando com o lo-fi, Chanyeol transforma BLACK OUT na prova de que ele, incessantemente, esteve preparado para fazer algo além.
Chanyeol, em BLACK OUT, diz que amar é um verbo transitivo
Se você está acostumado com os projetos em que Chanyeol é só rapper, amasse tal ideia e jogue fora ao escutar o BLACK OUT. Ao longo de seis faixas, o artista coloca na vitrine sua voz gutural de barítono a todo momento, e faz careta para quem o subestima como um vocal destacado no EXO.
Na própria BLACK OUT, faixa-título do debut, o cantar de Chanyeol expressa vulnerabilidade e anseio, enquanto a letra discorre sobre viver um "apagão" enquanto se está longe da pessoa amada. "Luzes de semáforo quebradas", "uma vida bagunçada" e "pensamentos cortantes e espinhosos", conforme diz a composição, são elementos que casam com os cenários escolhidos para o MV: a gigante, turbulenta e luminosa região central de Hong Kong, que já foi cenário de diferentes filmes de Wong Kar-wai e sua habilidosa mão para traçar narrativas que engolem personagens melancólicos e românticos.
Tão intensa quanto a fotografia maravilhosa de seu videoclipe, BLACK OUT bebe da fonte de contemporâneos como Post Malone, Dominic Fike e Omar Apollo para apresentar um Chanyeol solitário, mas louco para amar. E aqui, o eu lírico está preso numa realidade tão formidável visualmente, mas tão dissociativa para alguém sem âncoras nas relações humanas.
Mas Chanyeol, no BLACK OUT, contorna a tristeza com Hasta La Vista, música que traz esperança para tal universo de despedidas dolorosas ao coração. Nela, o artista deseja prosseguir com reuniões calorosas, trocas de experiências e a possibilidade de um futuro recheado de reencontros; ele ama no transitivo do verbo. E a calmaria continua em Ease Up, com uma letra tão simpática sobre viver pequenos-bons momentos com alguém; ordinários, mas especiais.
Neste momento, o disco ganha uma virada espetacular: a tracklist chega na ótima Back Again, um hip-hop com uma pitada de glam rock por trás de uma composição que cospe versos de se reerguer depois de uma turbulência na vida. E é claro que, com sua personalidade vivaz e cheeky, Chanyeol não vai escrever algo clichê de "força, foco e fé"; ele prefere dizer que o "mundo confinado é muito pequeno" para sua força motriz. Esta, inclusive, é a canção de maior destaque no BLACK OUT, na minha opinião.
O projeto continua com I'm on your side too, uma música que mescla a base do trap com o indie e é voltada para o fandom EXO-L, sobre reviver emoções de um amor companheiro e inocente — e como o mundo pode se tornar mais colorido na passagem do tempo. Por fim, Chanyeol acaba BLACK OUT em Clover, um lo-fi que decora palavras direcionadas aos cachorrinhos do membro do EXO, os identificando como os seus trevos-de-quatro-folhas; e sim, o poder da amizade vence num mundo hostil. Confira as letras por si só.
Um dos triunfos deste debut são, sem sombra de dúvidas, as letras (e Chanyeol participou de quase todas). A produção também é agradável, concisa à proposta do projeto, e combina com o visual rebelde-fofo do idol no conceito em questão. O BLACK OUT torna as sensações de tristeza, solidão, amor, empatia e felicidade em canções amistosas e agradavelmente interessantes, e é incrível perceber o jeito que um álbum pode te abraçar como um amigo de longa data. Ou então, a experiência torna-se mais completa quando você acompanha a artisticidade do Chanyeol do EXO com mais afinco.
Chanyeol quebrou as caixas em que a SM o colocou, e voa sozinho
Conhecer as músicas de Chanyeol no BLACK OUT apenas por uma review não é o bastante. Você precisa ouvi-las, escutar outra vez, e prestar muita atenção. A melancolia torna-se força, e o romance se concretiza nos pequenos gestos e momentos. O projeto mostra como Chanyeol, sendo artista ou até mesmo um cara normal, é alguém que valoriza as relações e presta atenção nas surpreendentes nuances que o mundo proporciona às pessoas.
Não estamos falando do cantor que discorre nos versos fortes, atrativos e dançantes de um rap do EXO. Neste álbum, o público assiste a uma figura doce, singela e cheia de expectativas para o futuro que lhe aguarda. O BLACK OUT é uma amostra do que Chanyeol fez, faz e ainda vai fazer no cenário do K-pop que tende a ser fatal, explosivo e imparável — e o cantor também possui as cartas na manga para ser tudo isso da forma mais inusitada.
Chanyeol está quebrando os moldes das caixas que a SM o colocou para o EXO. Obviamente, eu adoro e sou viciado nas entregas que ele faz com o boygroup; me apaixonei pelo seu trabalho justamente dessa forma. Porém, o artista sempre esteve com uma guitarra, uma bateria ou um teclado, peças que domina como multi-instrumentista e que revelaram ainda mais os seus talentos para cantar uma balada do grunge.
Este disco faz com que o Chanyeol, por mais distante que ele esteja da sua posição inicial no EXO, se sinta mais próximo do lado que o torna real e uma peça-chave para a caleidoscópio de talentos do grupo. Ele está lhe apontando o dedo, e dizendo: eu nasci para isso, e você vai ver.
É uma pena este CD ser tão curto. A teimosia da SM em dar discos breves para a maioria das estreias de seus solistas é um saco. Mas ainda assim é uma peça valiosa para a gente enxergar o Chanyeol de um lado pouco visto pelo público geral: o do garoto que entrou para a música no intuito de ter uma banda de rock, e que esteve atrás das cortinas do palco durante os espetáculos do astro pop que ele virou. Agora, é a vez desse "pequeno" Park Chanyeol dar as caras.
Se você viu o BLACK OUT como uma porta de entrada para tudo que o cantor já fez, mergulhe fundo na ideia. É um deleite presenciar a existência desse artista, e por trás da capa do jornalista que escreve este texto, há um fã muito orgulhoso na arquibancada por Chanyeol ser quem é.
Escute BLACK OUT, disco do Chanyeol do EXO, logo abaixo:
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