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Opinião | O K-pop terá um novo "boom" da música eletrônica, e é culpa da Charli XCX

A partir do bem-sucedido "BRAT", a música pop da Coreia já flerta com o gênero que está nas raízes da sua origem


O K-pop terá um novo "boom" da música eletrônica, e é tudo culpa da Charli XCX
(SM Entertainment/Source Music/Reprodução)

O verão no hemisfério norte já acabou, e do lado ocidental do globo, Charli XCX foi coroada como um dos nomes mais bem-sucedidos da estação. Conforme a artista divulgou o álbum BRAT em junho, uma avalanche de memes, trends, streams e elogios da crítica especializada ajudou a colocar o disco na lista de melhores do ano. Mas no K-pop, como o sucesso de Charli vai se traduzir entre os artistas coreanos?


O K-pop é uma indústria que se retroalimenta de tendências que, com clareza, são influenciadas pelo que é moda além da fronteira. Há alguns anos, por exemplo, vimos o mercado pop da Coreia mergulhar no ressurgimento do disco e do synthpop; e mais recentemente, a moda Y2K trouxe o pop rock e o jersey club para a linha de frente.




Agora, talvez seja o momento da música eletrônica retornar. E por "eletrônica", nos referimos ao house, o techno e à cena rave. Com o sucesso estratosférico do BRAT em 2024, há um grande potencial para o K-pop ser invadido pela música das casas noturnas outra vez, assim como aconteceu na 2ª geração de artistas do gênero.




O "brat summer" já existiu no K-pop há pelo menos dez anos


É interessante vermos como as modas vão e voltam. Charli XCX, a partir do BRAT, colocou sob os holofotes o pioneirismo de seus contemporâneos em experimentar com o "antigo" para criar grandes hits. Nisso, o ritmo com que a artista britânica inundou o mainstream foi o mais avant guarde e nostálgico possível, em faixas que brincaram com o electropop, o autotune e os botões das mesas controladores dos DJs.


O que o time de Charli (composto por figuras como os produtores A.G. Cook e Cirkut, o DJ Easyfun, e o baterista do The 1975, George Daniel) fez em BRAT foi revisitar o primor dos gêneros eletrônicos dos anos 90 e início dos 2000 para algo mais moderno. Dessa forma, a cantora pôde estrelar as festas e playlists de milhões de pessoas com faixas como Guess, 360 e Girl, so confusing — que também ganharam remixes modificados para a pista de dança.



O K-pop pode seguir tal linha para reinventar um gênero: explorando a aplicação da música eletrônica em outras épocas. Se voltarmos um pouco a página, para meados da década de 2010 ou até antes, vemos o K-pop ser moldado pelo 2NE1, Brown Eyed Girls, SHINee, f(x) e tantos outros grupos que mergulhavam na house music e suas derivações. O "brat summer" já existia antes mesmo de ser promulgado.



É claro que, no sentido prático das coisas, a eletrônica nunca sumiu do K-pop. Ela apenas foi modificada para alinhar-se às tendências do tempo; até porque, pouco antes da década de 2020, o deep e o tropical house não saíram dos ouvidos do público com os comebacks do SEVENTEEN, KARD, EXO, SF9, MAMAMOO e dezenas de outros artistas.


Porém, se estamos falando dos ritmos escutados pelas "city sewer sluts" de Charli XCX, a pegada é bem diferente do visto na 3ª geração do K-pop. Nos referimos a algo feito para as pistas, às madrugadas das raves e o cenário de garotas festeiras que Charli moldou em seu arquétipo de "partygirl".


Por isso, o jersey club que hoje domina a cena talvez esteja com seus dias contados. Há grupos que já estão explorando outras maneiras de fazer pop, e deixando de lado o "estilo do NewJeans" que foi emulado de forma massiva de 2022 para cá. O espírito vanguardista, festeiro e intenso de Charli XCX, que protagonizou o verão norte-americano há pouco, já possui olheiros sobre a sua cabeça na busca pela próxima tendência do K-pop.



aespa e LE SSERAFIM destacam-se no que está por vir


Enquanto o cenário é moldado para o retorno do "K-pop de festa", o aespa já está na fronte do movimento que vai dominar o mercado em breve. O girlgroup da SM Entertainment, que estourou nas paradas musicais outra vez com Supernova e Armageddon este ano, possui uma equipe criativa primorosa que as faz explorar diversas vertentes da eletrônica. Do hyperpop ao liquid drum and bass, o aespa já fez de tudo um pouco — incluindo tentativas de sucesso de emular a arte de Sophie Xeon, uma das maiores produtoras da última década e amiga íntima de Charli XCX, que faleceu em 2021.



Mais recentemente, o LE SSERAFIM também despontou na onda com Crazy. A música, lançada no comeback de agosto deste ano, é o puro suco do EDM e fortemente influenciada pelo house dos anos 90. Aliás, a música até ganhou um remix feito pelo DJ David Guetta; estratégia que não é única do grupo da Source Music, visto que remixes estão cada vez mais presentes no K-pop para que as canções performem por mais tempo nas plataformas digitais, como o TikTok.




E há outros exemplos a serem citados. O Key do SHINee, por sua vez, trouxe de volta o electro-house do seu grupo original em Pleasure Shop, seu lançamento mais recente. A solista Chungha, que nunca abandonou a eletrônica e que é um dos nomes mais fortes deste subgênero dentro do K-pop, soltou a incrível I'm Ready no comecinho de 2024. E ainda, as ex-membros do LOONA — mais especificamente, o Loossemble e o ARTMS — também seguem na divulgação de projetos que bebem dos estilos mais dançantes.



A música eletrônica nunca foi embora do K-pop. Ela apenas mudou de forma, sentido e aplicação. Entretanto, há a possibilidade dela voltar ao pódio com mais força do que nunca, no formato específico do que toca nas baladas dos grandes centros urbanos, com muito neon e roupas curtas. E no Brasil, a moda chega bem a tempo do nosso próprio brat summer.




Há um novo tempo pro K-pop deixar para trás o pop bubblegum do falso Y2K, e abraçar a onda que Charli XCX — em conjunto a tantos outros contemporâneos — ajudou a levantar o astral em 2024.


Aliás, há tempo de também conferir o comeback do Key, caso ainda não tenha visto:



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