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Opinião | KATSEYE é a prova de que o K-pop não é uma fórmula perfeita

O grupo ainda não conseguiu se provar como original mesmo após dois meses de estreia


Novo grupo na indústria do K-pop: KATSEYE
(Reprodução / Teen Vogue)

O novo grupo feminino da HYBE Labels e Geffen Records, KATSEYE, lançou seu primeiro EP no último fim de semana, um mês após o debut, e está, aos poucos, tentando conquistar espaço na indústria musical. Composto por seis integrantes - Manon, Lara, Daniela, Sophia, Megan e Yoonchae, o grupo é baseado em Los Angeles, nos EUA, e o objetivo da produtora é alcançar mais público ao redor do mundo. Uma das estratégias é o investimento no mercado estadunidense e em grupos multinacionais, e o KATSEYE é um dos experimentos da empresa.


O girlgroup fez sua estreia no dia 28 de junho com o single Debut, e em seguida lançou o segundo single, Touch. Desde então, surgiram várias comparações nas mídias e nas redes sociais com outros grupos que debutaram recentemente, como BABYMONSTER e ILLIT. O grupo foi idealizado para ser uma extensão do K-pop em terras estadunidenses - país onde o gênero não domina e onde a maioria dos esforços das empresas é empregado - mas sem perder as características do K-pop.


Para isso, HYBE selecionou os pontos mais marcantes da Coreia e da indústria, como reality shows de sobrevivência, sistema de trainee, foco na coreografia, entre outros, para criar "o grupo ideal" - uma mistura mágica à la Meninas Superpoderosas. Em entrevista, Bang PD, produtor da HYBE, defendeu o processo e que "o k-pop não deve mais ficar confinado a uma região específica, e sim se expandir globalmente, descobrir novos artistas a partir do sistema de desenvolvimento e treinamento do k-pop em suas próprias regiões". A fórmula parece perfeita, mas não parece estar dando o resultado que a empresa esperava.




De fato, os números não são animadores: em dois meses de debut, o novo grupo da HYBE não rankeou bem em nenhum dos principais paradas musicais da Coreia e nem nos mundiais - a melhor colocação é com Touch em #39 no Spotify Korea e o EP SIS em #9 no Apple Music nas Filipinas. KATSEYE tem aparecido pontualmente em charts asiáticos, como na Malásia, em Singapura, Filipinas, Myanmar e outros países menores, enquanto nos EUA, onde o grupo realiza suas atividades, nunca sequer figurou em rankings. Além de, comparativamente, o grupo estar bem atrás de outros da geração, em questão de views e plays nas plataformas digitais. Nos últimos dias, o girlgroup tem ganhado mais visibilidade na Coreia, mas nada estrondoso ainda.


Além dos números pouco promissores, a estratégia da HYBE tem levantado uma questão importante nas redes sociais: KATSEYE é considerado K-pop? Fãs questionam se o fato de estarem tão distantes da origem do gênero faz com que elas sejam consideradas artistas de k-pop, e também chamam atenção para a falta de promoção do grupo na Coreia do Sul, enquanto o mercado estadunidense é mais valorizado. Outros ainda se perguntam sobre a ausência do coreano nas letras, já que "tudo que importa é se elas cantam em coreano, porque é literalmente isso que o k-pop é... pop coreano", disse uma fã no X (antigo Twitter). Mas o que classifica um cantor ou grupo como K-pop?




Para especialistas, o que torna o K-pop inconfundível - e famoso ao redor do mundo - é o estilo, persona e aparência únicos dos artistas. De acordo com o crítico musical Lim Hee Yun, o gênero só ficou conhecido nos EUA e na Europa porque era diferente - as pessoas não estavam acostumadas com artistas asiáticos, com maquiagem elaborada e roupas tão distintas, o que gerou uma curiosidade sobre a música e cultura coreanas. "Quanto menos estranho, menos atrativo. Em outras palavras, [no Ocidente] artistas de K-pop sem ascendência asiática tem menos apelo com fãs porque são familiares", completou o profissional.


Outro fator determinante para definir o que é o K-pop de acordo com especialistas, é a origem dos artistas, como traz Grace Kao, professora do gênero, questões étnicas, raciais e migração em Yale. Para a professora, o que atrai o americano médio é a originalidade dos artistas, das músicas e das coreografias. Kao ainda aborda a importância da representatividade asiática, já que "não vemos coreanos, asiáticos ou asiático-americanos entre os cantores pop ocidentais", e reforça que quando os grupos não são da Coreia ou não cantam em coreano, fica mais difícil de os fãs identificarem como K-pop.



Formação em reality de sobrevivência



Caso você seja novo no K-pop, formação de grupos através de realities é mais comum do que se pensa. Mas como funcionam? Basicamente, fazem uma pré-seleção de jovens artistas que já estão no programa de trainee de empresas da indústria para competirem entre si e formar um novo grupo feminino ou masculino. Várias empresas apostam nessa estratégia para medirem a aceitação do futuro grupo, testar trainees, ver se os fãs estão investidos no estilo e nos idols pré-selecionados, além de poderem mostrar como os ensaios e treinos funcionam nos bastidores. Vários grupos foram formados por meio desse formato, como ENHYPEN, pelo I-LAND, Twice, pelo Sixteen, I.O.I, pelo Produce 101, e Stray Kids, por programa de mesmo nome.



O lado positivo desse formato é que o reality constrói uma base de fãs sólida. Os fãs acompanham os idols em treinamento desde o início, conseguem medir a evolução do canto e dança dos candidatos, além de participarem ativamente da formação do grupo já que, como qualquer reality, a votação popular é fundamental. Assim, quando os grupos debutam, os fãs já têm seus favoritos e engajam com compras de álbuns físicos e digitais, além de alavancarem os streams e colocarem os artistas no topo das paradas.


Outra característica dos grupos formados por programas de sobrevivência é que eles já estreiam com data de validade. Como os participantes possuem contratos com empresas - que não necessariamente está organizando o reality - os contratos costumam ter um prazo de duração do grupo, variando de acordo com o programa. Após a data, o grupo se desfaz e os artistas estão livres novamente no mercado para se lançarem como um novo grupo ou como solistas. Nos últimos anos, as empresas tem criado seus próprios realities com trainees próprios, então essa questão da efemeridade do grupo já não é mais tão recorrente na indústria.


Como funciona o sistema de trainee do k-pop


Novo grupo na indústria do K-pop: KATSEYE
(Reprodução / Netflix)

Ser trainee de idol de K-pop não é uma tarefa fácil - na verdade, é bem tóxica. Adolescentes a partir dos 11 anos que sonham em ser cantores se inscrevem nas empresas da indústria musical coreana e torcem por uma vaga no programa de trainee e, caso sejam recrutados, começam uma rotina exaustiva para serem os melhores. Os ensaios duram mais de 12h por dia, com aulas de canto, dança, como se comportarem, treinos de mídia, dietas e ainda são submetidos a regras rigorosas de toque de recolher, uso de telefone/redes sociais e até mesmo contato com família e amigos. Ali, eles estão correndo atrás do sonho deles e não podem permitir que nada atrapalhe esse sonho.


O sistema de trainee é tão competitivo, exaustivo e tóxico que os artistas enfrentam problemas sérios de saúde física e mental. Os artistas são levados diariamente aos seus limites - lembrando que muitos são adolescentes que vivem longe da rede de apoio, e até fora do seu país de origem - e muitos desenvolvem depressão, ansiedade e síndrome de pânico. Hoje em dia, as discussões sobre saúde mental são mais fortes na Coreia do Sul e artistas mais consolidados falam abertamente sobre isso, como a solista IU, Wheein do Mamamoo e o grupo BTS.



Opinião

Mas afinal, qual o rumo que KATSEYE está tomando? O que a HYBE está fazendo com esse grupo de meninas que têm tão pouco contato, vivência e influência do k-pop? A ideia original de criar um grupo multinacional com características do K-pop tem sua lógica - se formos pensar do ponto de vista de expandir o alcance do gênero em um país que ainda não abraçou 100% o estilo - mas está sendo feito do jeito correto?


Do meu ponto de vista, alguma coisa na estratégia da HYBE não está encaixando. As próprias membros disseram que, antes da competição, mal conheciam o K-pop e Sophia precisou ensinar um pouco do que ela sabia e contextualizar sobre artistas, músicas e um pouco da cultura do gênero, e isso faz com que nós não acreditemos muito que essas meninas sejam parte do K-pop e, a princípio, que sejam o futuro do gênero nos EUA. Essa desconfiança impede que a Coreia do Sul abrace e engaje com o KATSEYE como um produto nativo coreano, especialmente quando há tão pouca divulgação no país. É como se a HYBE estivesse vendendo a ideia do K-pop ignorando completamente a Coreia do Sul, que é sua maior consumidora - e origem.


Apesar de o single Touch ter ganhado popularidade entre os coreanos nos últimos dias, o resultado geral não é muito promissor. O crescimento nos streams, que só veio após o lançamento do documentário da Netflix Pop Star Academy: KATSEYE, vem sendo observada apenas com o single enquanto demais trabalhos do grupo parecem estar esquecidos nas plataformas. A HYBE está errando na divulgação do KATSEYE e os resultados já estão bem evidentes para o mundo inteiro. Essas meninas têm muito potencial de sucesso, e está na hora de recalcular a rota e voltar os olhares para a Coreia do Sul também, caso contrário o reconhecimento que tanto projetaram nesse grupo, não virá.


E você, o que acha do KATSEYE e de como estão sendo promovidas? Considera k-pop ou é apenas mais um grupo pop americano? Conta pro Café nas redes sociais!

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