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Luzes interativas em shows: Por que estão atribuindo uma tendência do K-Pop ao Coldplay?

Atualizado: 29 de dez. de 2022

As pulseiras de luz chamaram a atenção em determinados nichos após os shows do Coldplay, mas a prática é bem mais antiga entre os fãs de K-Pop

(Reprodução/Johnny Louis & xoxo804)

O The Town, festival sediado em São Paulo em 2023, anunciou em meados de dezembro a distribuição de pulseiras de led interativas para o público. A atitude rapidamente foi associada por muitos ao Coldplay, que tem inserido o item em seus concertos. Considerada inovadora, a prática recebeu destaque ao ser apresentada nos eventos da banda no Brasil, como no Rock in Rio. Porém, os shows de luzes não começou com os artistas britânicos, na verdade, é uma das práticas mais antigas com origem no K-Pop.


A tecnologia proporciona um visão de um verdadeiro oceano de luzes. O item permite que as cores e intensidade sejam sincronizadas com as batidas das músicas, aumentando a interatividade da experiência entre público e artista. Não é uma surpresa que as pessoas que nunca tiveram contato com esse tipo de prática fiquem maravilhadas ao vê-las pela primeira vez.


Para proporcionar esta interatividade, o Coldplay utiliza as Xylobands, uma pulseira distribuída em seus concertos e que só podem ser ativadas pela produção do evento. O acessório possui sete cores diferentes de led e é feito de plástico, desenvolvido por Jason Regler, um fã inspirado pela música Fix You (2005), um dos sucessos dos britânicos.


Durante os shows no Brasil eram comuns grandes elogios sobre a produção, considerando-a inovadora. Porém, esta interatividade vista como única, nada mais é do que parte da rotina dos shows e fandoms de K-Pop. Como esperado, fãs de música sul-coreana sentiram-se incomodados pela atenção em torno da prática apenas a partir do momento em que foi replicada pelos europeus.


(Reprodução/Multishow)

Os apoiadores da banda saíram em defesa e afirmaram que a pulseira é usada desde a turnê Mylo Xyloto, há cerca de 11 anos, ou seja, também não deve ser considerada uma ação recente. Porém, as lightsticks e K-Pop estão lado a lado bem antes, desde 2006. Sejamos justos e demos os créditos corretos a quem merece. A ação de remeter ao Coldplay um ato tão comum entre os fandoms de música sul-coreana não tem agradado nada este nicho — e com razão.





Lightsticks: Quando surgiram?


Um dos principais produtos de consumo no K-Pop nasceu a partir da mente perspicaz de G-Dragon, líder do BIGBANG. Em 2006, o rapper foi ousado, e logo no primeiro ano de estreia do boygroup, nem imaginava que realmente faria história. Na ocasião, GD tinha a intenção de conseguir reconhecer seus fãs em grandes eventos, como premiações e festivais. Para iss,o ele criou o primeiro bastão de luz para as VIPs (fandom do BIGBANG).


(Reprodução/MyBIGBANGCollection)

A ideia teve uma recepção positiva do público e logo foi aderida por outros grupos. Atualmente, é impossível pensar em K-Pop sem as lightsticks e se tornou quase uma tradição que os cantores tenham as suas, desde os mais famosos aos que estão em início de carreira. Inclusive, é comum que alguns apoiadores criem suas próprias versões para apoiar os artistas em determinadas ocasiões.


Ao longo dos anos, os bastões evoluíram e receberam novos formatos, funções e se tornaram mais tecnológicos. Há designers desde martelo, como o do BLACKPINK, até bastão de beisebol, caso do iKON. Além do formato tradicional, que pode ser carregado na mão, também já foram projetadas pulseiras e tiaras. Mas a função principal permanece: apoiar o ídolo.


Desde 2006, os bastões de luzes, junto com as cores oficiais são as marcas de identidade de cada fandom. No K-Pop, sempre foi comum que cada um deles tenha uma identidade, que os torne reconhecíveis. O uso de cores para distingui-los também é uma forma, por exemplo, o SHINHWA é quase um pioneiro nesse quesito, tendo o laranja como cor oficial há 24 anos. A lightstick se junta a esses itens que marcam a identidade. O acessório é realmente levado a sério — vale lembrar quando a Mnet despertou a revolta do público ao proibir o uso de lightsticks individuais no MAMA para distribuir uma padrão no evento.



Lightsticks x Xyloband: Há diferenças?

(Reprodução/@buoshixun & XylobandsUSA)


Os dois itens tem suas diferenças. O design da lightstick é individual para cada fandom e para obtê-los é preciso comprar. É um produto feito para ser duradouro, logo, basta bateria suficiente para que o consumidor consiga ativa-la a qualquer momento do dia. No caso da Xyloband, ela é dada em concertos, então, o público não gasta nada. Porém, no final do evento, precisam devolve-las.


A pulseira também não possui utilidades sem ser em shows, uma vez que não será possível liga-la. As diferenças são singelas, mas a função permanece a mesma: interagir com o show proporcionando um conjunto de luzes para apoiar o artista no palco.


Por que o show de luzes recebeu tanta atenção apenas agora?


A resposta é simples: o que vier do Ocidente, especialmente, de países norte-americanos e europeus sempre será mais bem aceito e consumido com maior facilidade. O K-Pop se expandiu globalmente nos últimos anos, mas ainda há um longo caminho a percorrer para a verdadeira aceitação, como ocorre com conteúdos ocidentais. Porém, aqueles que tanto criticam e usam uma xenofobia mascarada de opinião são os mesmos que constantemente tomam para si as principais inovações vindas do gênero musical sul-coreano.


O K-pop atribui tendências que são replicadas em diversos países, por mais que ainda tentem apagar esta relevância e pioneirismo. É assim na indústria da moda e da beleza, por exemplo, Jennie do BLACKPINK tornou-se uma das principais ditadoras de tendências, que são muito consumidas pelos ocidentais, como o retorno dos corset como parte do figurino e o estilo de cabelo Money Piece. Há também G-Dragon, que popularizou o corte mullet e o uso do chapéu pescador.


(Reprodução/YG & Dear G)




A verdade é, o K-Pop vai muito além do seu próprio nicho pelas ideias diferentes daquelas encontradas na indústria musical do Ocidente. Ele se expande com facilidade por diferentes segmentos, por mais que muitas vezes não receba os devidos créditos. A indignação dos fãs perante a propagação de falsas origens do show de luzes é compreensível e reflexo de anos de apagamento silencioso que conteúdos de origem asiática recebem da indústria ocidental.

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