O grupo até tenta transformar suas imposições em algo grandioso, usando inspirações como 2NE1, mas acaba falhando
(Divulgação / CUBE Entertainment)
A imposição temática do (G)I-DLE diante de todo o conservadorismo sul-coreano que parece odiar cada dia mais as mulheres é bastante simbólica. Wife, música que antecede todo o espetáculo armado deste álbum, foi censurada pela KBS — banida talvez não seja a palavra certa para esta situação —, juntando-se ao seleto grupo de músicas que ousaram desafiar certos padrões.
É uma questão sintomática, dado que recentemente a “exposição excessiva da pele” por idols femininas se tornou um tópico de discussão acalorada em fóruns coreanos graças ao visual de grupos como LE SSERAFIM. Enquanto isso, é completamente normal ver idols masculinos adotando looks sensuais e posando sem camisa por aí.
Percebe-se, portanto, que há de fato um pano de fundo para que o (G)I-DLE busque estabelecer suas bases na contravenção. É uma jogada arriscada. Em parte, isso realmente funciona: a provocação é deveras interessante. Mas no contexto geral a ideia tem falhas porque passa pela superficialidade já trazida por grupos como o ITZY, por exemplo.
A liderança criativa do (G)I-DLE sob Soyeon
Há, em tudo isto, um dilema que só (G)I-DLE poderia representar. Acontece que, como bem sabemos, Soyeon assume a liderança na implementação de muitas destas ideias. Suas composições agem como óleo mineral para freios a disco: sempre escorregadias e repetitivas a ponto de causar enjoo.
Como forma de amenizar muitos erros de composição e produção da artista, diz-se que não podemos levar suas músicas a sério — precisamos concordar, até porque essa é uma regra que se aplica a todo o K-pop. Mas é justamente por essa falta de seriedade que o tema geral acaba sendo qualquer coisa.
E embora 2, segundo álbum completo do grupo e que vem na sequência de sucessos recentes como Queencard, Nxde e TOMBOY, tenha alguns destaques, a falta de profundidade — até mesmo na abordagem da narrativa — faz com que tudo seja resumido às intenções.
O resgate do brilhantismo passado
Super Lady, faixa-título escolhida para dar vida às provocações, invoca um EDM borbulhante da segunda geração. E no melhor estilo 2NE1 possível, elas lançam uma intensa explosão vocal no pós-refrão; mas acabam se aproximando do BLACKPINK no final. Nesta canção, a figura feminina permanece à vista.
Isso também acontece na sequência com Revenge, carregada de inspirações postadas em gerações passadas. É um resgate que é dado inclusive pelo girl crush adaptado aos versos percussivos, como em Doll, em que elas cantam “Bye, bye to your blah, blah”, logo após estabelecerem outra veia de empoderamento: “I'm not your doll, don't cry”.
São estas nuances que revelam uma certa atitude positiva, mas que se entrelaçam com momentos dispensáveis como 7Days e Fate, ambas marcados por uma pausa na intensidade com que o álbum percorre. Felizmente, essas duas músicas não assumem posição de balada – o que seria pior.
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Só porque é autoral não significa que seja necessariamente bom
E por mais que 2 ouse ir além, como mencionado no tema do empoderamento feminino ou na busca de referência às gerações passadas, nada aqui se efetiva à medida que as integrantes impõem suas próprias perspectivas sobre as músicas que compuseram e/ou produziram.
Nem é preciso dizer que este é um trabalho que vai além do senso de autossuficiência, até porque o K-pop segue uma dependência natural de tendências. Procurar algo novo, então, é uma tarefa difícil – mesmo que essa novidade esteja no passado. E o (G)I-DLE está sempre buscando trazer inovações em sua própria esfera.
É por isso que seus sucessos vão do pop rock ao electropop. Mas aqui o que encontramos é o resumo do resumo. Um fragmento do que elas poderiam fazer, mas não fazem. E o resultado é esse descuido temático, sonoro e posicional. É um sucesso que se transforma, ao longo do caminho, num verdadeiro erro: elas perdem a mão mais uma vez.
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