Participação dos atores pode ser uma estratégia para o futuro dos K-dramas; saiba mais sobre o novo sucesso do streaming
(Reprodução/Twitter @v_lovez e @SF9_FANCLUB)
A breve participação dos atores Rowoon e Ahn Hyoseop no K-drama da Netflix O Tempo Traz Você Pra Mim vem despertando a curiosidade dos fãs. O drama, que estreou em 8 de setembro, conta a história da jovem Jun Hee (Jeon Yeobin) tentando continuar sua vida após perder seu namorado Yeonjun em um trágico acidente. No oitavo episódio, vemos uma participação especial de Rowoon como um colega de turma de Yeonjun, namorado da protagonista feminina.
A grande questão está na storyline dos personagens: nos primeiros 10 minutos do episódio, os personagens masculinos são apresentados como interesse amoroso um do outro, de uma maneira delicada e condizente com as narrativas vistas em BLs atuais. A partir daí, fãs e audiência se questionaram se os atores realmente seriam um casal gay no K-drama, se tudo não passava de uma pegadinha, ou, até mesmo, se seria um queerbaiting.
Bom, já falamos um pouco sobre a história de O Tempo Traz Você Pra Mim por aqui, mas, hoje, o Café trouxe toda a explicação do que tá rolando nessa fofoca. Mas atenção: esse texto pode conter spoilers não tão leves assim! Então, tome cuidado ao continuar a leitura.
Casal gay em "O Tempo Traz Você Pra Mim"?
(Reprodução/ Netflix)
Para relembrar: em O Tempo Traz Você Pra Mim, Jun Hee (Jeon Yeobin) é uma mulher tentando viver sua vida normalmente, depois de ter passado por um trauma envolvendo seu namorado. Em meio ao seu luto, Jun Hee é misteriosamente transportada para o corpo de Min Ju, uma estudante tímida que se parece muito com ela, no ano de 1998. É então que ela conhece Si Heon, um colega de escola de Min Ju que é exatamente igual ao seu falecido companheiro. A série é um remake do drama taiwanês “Someday or One Day” (2019).
Segundo relato de vários espectadores que assistiram às duas versões, o K-drama é fiel à série original, mas a história coreana também veio com diferenças, como é comum em adaptações. Por exemplo, a trilha sonora principal, que é uma parte importante do contexto geral de viagem do tempo, foi alterada. Em O Tempo Traz Você Para Mim, as cenas são embaladas pela música Gather My Tears, do cantor coreano Seo Ji Won. Já na versão original, a música escolhida é a do cantor Wu Bai, Last Dance.
Mas uma das principais diferenças é a história original do personagem Ko Yeonjun, interpretado por Ahn Hyo Seop na versão coreana. Em Someday or One Day (versão original), o personagem se chama Wang Quan Sheng e possui um desenvolvimento maior nos episódios, mostrando mais de sua personalidade e vida pessoal. Em certo momento, sua orientação sexual é revelada de forma desconfortável, afetando toda sua vida e o levando a cometer suicídio.
Já na versão coreana, a storyline trouxe para o personagem um destino tão triste quanto, porém, acompanhado de momentos de certa forma mais felizes e delicados. Ko Yeonjun e Tae Ha, colegas de classe, são apaixonados um pelo outro e, aparentemente, não conseguem dizer a verdade. Até que, em um momento dentro do carro, eles seguram a mão um do outro e os sentimentos transbordam pelo toque e pelos olhares. Infelizmente, os dois se envolvem em um acidente de carro na sequência, causando a morte de Tae Ha e sendo um gatilho para que Si Heon entre de vez na trama de viagem no tempo.
Amigos de Infância em O Tempo Traz Você Pra Mim
No pouco tempo de tela que compartilharam, Rowoon e Ahn Hyo Seop entregaram muita química em suas atuações. E não foi por menos: Rowoon aceitou fazer esse cameo no K-drama por ser amigo de infância de Hyeo Seop. Ele também não recebeu cachê pelo trabalho, exigindo apenas que seu amigo o enviasse um carrinho de café, troca coreana tradicional entre amigos e/ ou colegas de trabalho quando estão trabalhando em um projeto novo.
Segundo o diretor do K-drama Kim Jin Won em entrevista dada ao portal coreano Joynews24, o único ator que poderia entregar uma performance boa como Tae Ha seria alguém com quem Ahn Hyo Seop estivesse confortável o suficiente para contracenar. “Tínhamos uma outra versão filmada para o destino final do personagem de Yeonjun, porém, eu quis dar um futuro diferente para ele”, o diretor diz. “Queria que ele fosse embora quando estivesse se sentindo feliz, e não se sentindo rejeitado pelo mundo. Assim, incluí a parte com Tae Ha, em que os personagens tinham sentimentos mútuos, diferente do original”.
Sendo colegas de profissão e tendo intimidade como amigos, a atmosfera no set foi de descontração, como explica Kim Jin Won. “Depois de expressarem as emoções um ao outro em cena, eles gritaram de tanta vergonha, até afastando as mãos um do outro”, diz, referenciando ao último momento dos personagens em cena.
Queerbaiting, bromance e muito mais
(Reprodução/tvN)
Quem é fã de boys love já deve estar percebendo que o gênero está em constante crescimento, principalmente na Coreia do Sul. Só esse ano, mais de 25 produções já estrearam, com um crescente e ativo público. No meio de tanta visibilidade para o gênero, é normal que a indústria do entretenimento busque fazer parte do hype, e, então, várias obras novas surjam, além de novas possibilidades para narrativas que, até então, naturalmente não sofriam muitas alterações — como é o caso dos K-dramas de romance como O Tempo Traz Você Pra Mim.
É a partir desse olhar que vemos relações homoafetivas começando a ser retratadas com mais facilidade, ainda que elas ainda estejam longe de igualar os números de histórias com protagonistas femininos e masculinos se apaixonando. Nas redes sociais, surgem boatos de que os produtores de K-dramas estariam testando tramas com casais gays com atores principais, ou que tenham mais tempo de tela, sendo ambos atores famosos — o chamado bromance. O termo em inglês se refere à intimidade entre duas pessoas do mesmo sexo (mais comumente, do gênero masculino) e vem da junção das palavras “brother” e “romance”.
Em um bromance, não necessariamente existe uma relação romântica ou sexual, porém, os personagens estão em um nível de intimidade acima do normalmente visto entre amigos, e, pensando em uma sociedade conservadora como a sul-coreana, essa intimidade pode ser chocante para muitos espectadores. No caso de "O Tempo Tras Você Pra Mim", o choque se traduz como popularidade: em sua semana de estreia, o K-drama alcançou o TOP 10 séries mais assistidas da semana na Netflix (onde permanece até a data de publicação dessa matéria).
Será que os estúdios estão, de fato, testando atores bem conhecidos pelos fãs de K-dramas em papéis que se assemelham às tramas de boys love, colocando em cheque a aceitação do público? Seja este o caso em O Tempo Tras Você Pra Mim ou não, é válido lembrar de outras produções com bromances em foco.
Outros casos famosos de bromance em K-dramas são entre os personagens Kim Shin (Gong Yoo) e o Ceifador (Lee Dong Wook), em "Goblin", Lee Suho (Cha Eunwoo) e Han Seo Jun (Hwang In Youp), em "True Beauty" e Lee Yeon (Lee Dong Wook) e Lee Rang (Kim Bum) em Tale of the Nine Tailed 1938. Sejam parceiros no crime, criaturas sobrenaturais ou amigos de infância, em todos os três exemplos — e em muitos outros K-dramas —, temos no enredo um casal de amigos (homens) que podem, ou não, protagonizar cenas que criam a ideia de que eles teriam algum envolvimento romântico; mas sem nenhuma expressão significativa de amor romântico em si. É como diz o ditado: mais que amigos, friends.
Porém, a crítica está exatamente em como você atrai a sua audiência: prometendo representatividade LGBTQI+ e não entregando nada, ou fazendo um roteiro bem construído e levantando uma bandeira considerada polêmica para o país? A primeira opção é por vezes chamada de queerbaiting, um termo que critica a oferta de conteúdo dentro do padrão cisgênero e heteronormativo sob o disfarce de uma produção inovadora que reflete espectro queer. Muitos, inclusive, classificam a participação de Rowoon e Ahn Hyo Seop em O Tempo Traz Você Pra Mim como queerbait.
E você, acha que em O Tempo Traz Você Pra Mim foi ou não um queerbaiting? Em outras palavras, acha que eles conseguiram entregar alguma representatividade gay? Comente a sua opinião e siga o Café com Kimchi nas redes sociais!
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