Lançamento de 2022, que segue os já tradicionais releases de fim de ano, não agrega nada aos artistas, mas sim à marca
(SM Entertainment/Divulgação)
O ano de 2022 passou, e a SM Entertainment não desistiu de reunir a SM Family para mais um lançamento anual. Neste mês de dezembro, logo após o Natal (26), a empresa divulgou nas plataformas o disco 2022 Winter SMTOWN: SMCU Palace, que segue o já padrão conjunto de músicas colaborativas dos artistas do selo. Por mais um ano, a big 3 do K-pop tentou empurrar para os fandoms um lindo comercial de margarina da família SMTOWN; e agora, o resultado está um pouco mais tragável.
No disco de inverno anterior, a SM prometeu uma homenagem ao próprio legado com covers do S.E.S. e do H.O.T. na tracklist, mas o resultado foi um desastre nesse sentido. Por isso, talvez para não soar tão enfadonha este ano, a empresa decidiu apesar lançar um projeto mais genérico em conceito e músicas — um grande "palácio" em que os cantores da SM Entertainment se reúnem para se divertir. Bem, a falta de esforço da vez foi mais proveitosa e digerível.
O álbum inicia com uma composição da orquestra oficial da SM, que ambienta o ouvinte na atmosfera "filme da Disney" do SMCU Palace. Em seguida, a primeira música vocalizada do disco é The Cure, que conta com a participação dos líderes dos grupos da empresa. A canção tem influência do gospel e se mistura com o hip-hop no meio, e não é uma das mais interessantes do CD; apesar da ideia meiga de introduzir a SM Family pela liderança de seus atos musicais.
As coisas mudam logo na faixa Hot & Cold, terceiro título do SMCU Palace e com apenas quatro vozes. Kai (EXO), Karina (aespa), Seulgi (Red Velvet) e Jeno (NCT Dream) ficam responsáveis pela música que é pop puro — e a presença dos quatro queridos, membros da seleção de idols mais populares da SM atualmente, foi bem pensada para uma vitrine jovem e cool do disco. Inclusive, Hot & Cold foi uma das únicas músicas a ganhar um vídeol, que é uma performance dos artistas feita durante a pré-gravação do futuro especial de fim de ano da SM; e a apresentação é fofa de se ver no que diz respeito às mínimas interações dos idols entre si.
E falando em interações, o SMCU Palace nos relembra um dos únicos motivos para tal lançamento existir: o fanservice que a SM oferece durante a divulgação. A música Beautiful Christmas, por exemplo, foi lançada um pouco antes do Natal pelo Red Velvet e o aespa, que proporciona uma união graciosa dos dois girlgroups mais recentes da empresa. A canção, que é um tema natalino perfeito para tocar em alto falantes de shoppings, não é grandiosa em nada; mas e daí? O rápido momento das cantoras juntas faz com que a batida da faixa seja aturável.
A faixa Jet e os vocais impecáveis da SMTOWN são destaque no SMCU Palace
Jet, por sua vez, traz os membros das rap lines dos grupos numa das músicas mais divertidas do SMCU Palace. A SM sempre foi muito boa em produzir faixas que envolvem elementos do EDM, e Jet tem pitadas da música eletrônica juntas do hip-hop já recorrente do selo (não à toa, a b-side foi criada pelo famoso duo de produtores LDN Noise).
E o mesmo acontece com Priority, uma balada r&b com os vocais sempre instigantes de Changmin (TVXQ), Taeyeon e Winter, do aespa. Essa e o jazz carol Time After Time (com Wendy, BoA e Winter outra vez) aparecem para relembrar que, quando se trata da SM, os idols sabem fazer as coisas com o microfone ligado; com high notes ou não. A música pode ser a mais enfadonha já criada, mas os artistas vão cantá-la com emoção e harmonizar. E é interessante pensar em como tais canções do SMCU Palace poderiam se encaixar em discos dos artistas em si, ao invés de inseridas num release natalino que acaba sendo potencialmente deixado de lado depois.
Where You Are e Happier encerram o run de músicas das vocal lines da SM, e são aconchegantes aos ouvidos assim como as duas anteriores. Assim como no álbum de 2021, as ballads são um dos pontos fortíssimos da vez — e os artistas da empresa dão o nome nisso. O vocal powerhouse do selo é uma peça ímpar que nem todas, ou pouquíssimas empresas de K-pop, poderiam oferecer com facilidade; e independente da época, pelo menos um vocalista da SM será lembrado em listas de vocal lines da indústria. Numa época em que tantos artistas debutam e forma carreiras em grupos com vozes de péssima qualidade, a SM Entertainment nunca passará fome em tal aspecto.
Good to Be Alive encerra o lançamento de fim de ano com música eletrônica e uma melodia animada, com a presença dos DJs do selo Scream Records. Hyoyeon, Key, Chen, Johnny e Ningning se misturam com produtores como o DJ Raiden — o principal nome da Scream Records e neto de família chaebol — e o resultado é um fechamento decente para um disco que, comparado ao do ano anterior, foi muito mais positivo.
Mesmo com uma boa tracklist, ainda é difícil de imaginar objetivos maiores aos winter specials da SM
O álbum SMCU Palace não possui tantas pontas soltas quanto o antecessor. Entretanto, não há como pensar numa longevidade ou em algo memorável acerca desse e outros discos natalinos da SMTOWN (no caso, os que mesclam os artistas como no comercial de fim de ano da Globo). A empresa é, entre as maiores companhias do K-pop, a mais tradicional em lançamentos de inverno: são mais de vinte anos divulgando projetos que reúnem os idols da Family para uma confraternização musical, isso desde a época do SHINHWA. Mas qual a razão deles existirem, afinal?
Em 2022, a homenagem da SM aos seus clássicos foi mais certeira: o NCT Dream divulgou o EP Candy, com uma nova versão do clássico do H.O.T. para a geração atual. Ao invés de enfiar o tributo dentro do winter special como ocorreu em 2021 com Hope, também do H.O.T., houve uma divulgação separada dessa vez.
Mas o foco da crítica não está nos álbuns de inverno dos grupos, mas sim no da SMTOWN. Um ano depois, continua complicado enxergar objetivos maiores para esses lançamentos a não ser o lucro sobre dezenas de versões de um mesmo CD, e uma possível venda desenfreada de photocards especiais dos cantores favoritos do público. O SMCU Palace é vibrante em seus teasers e um deleite aos olhos com as interações dos idols, mas não consegue superar a barreira de um conceito sucateado como o multiverso de Kwangya (que felizmente esteve em menor evidência este ano).
Todavia, o álbum pode ser um sampler do que a SM tem de melhor: artistas com muito talento, bons visuais e que sempre estarão na boca do público. Talvez alguém possa não gostar dos grupos da companhia, mas uma coisa é certa: a maioria irá atrás para formar uma opinião, seja ela boa ou ruim. Em diferentes graus de buzz, a SM Entertainment atravessa as décadas no K-pop com uma estabilidade de conjuntos que chamam a atenção e formam fã-bases muito expressivas ano após ano.
E tais fãs provavelmente darão pelo menos um play no SMCU Palace, só para se certificar de que o fave teve algum verso cantado no álbum (mesmo que o disco não faça a menor diferença para nenhum dos artistas presentes). O winter special é bobo? Pode ser, mas é uma tradição brega que a SM manterá firme e forte por tempo incalculável, com o Lee Soo-man vivo ou não. O fortalecimento da marca é, sobretudo, o mais importante, nem que seja para divulgar o álbum mais supérfluo do ano.
O autor da resenha escutará algumas músicas por mais alguns dias antes do CD cair no duto do esquecimento do Spotify. Por ora, os fãs podem aproveitar as migalhas de interatividade dos idols entre si, e as centenas de fotos teaser com que a SM encheu as redes sociais. Depois disso, todos voltarão às discografias de seus respectivos grupos preferidos como se nada tivesse acontecido; isso pelos próximos doze meses, até o Natal seguinte chegar. O disco 2022 Winter SMTOWN: SMCU Palace é um esteticamente belo "tanto faz", porém dá para tirar uma onda com ele.
Comments