O cantor retorna com comeback em uma viagem de tirar o fôlego pelas melhores referências do cinema
Com a sequência de grandes lançamentos, já era esperado que U-Know do TVXQ fizesse seu grande comeback após dois anos e meio sem novos lançamentos solo. Nesta segunda-feira (07), o solista surpreendeu com seu terceiro mini-álbum “Reality Show”, que dá continuidade à ideia das suas diversas identidades, que, de certa forma, dialogam diretamente com sua multifuncionalidade.
Desta vez, o artista decidiu inovar ainda mais com a proposta de promover uma experiência no metaverso capaz de reunir sua adesão às referências clássicas do cinema com uma porção de efeitos especiais, coreografias impressionantes e cenas de luta insanas. U-Know retorna com um curta-metragem muito bem executado de ficção científica, que questiona o significado de “ser humano” frente aos constantes avanços da tecnologia que visam oferecer um refúgio à dura realidade da realidade.
Em seu vigésimo aniversário de carreira, o idol mostrou estar preparado para acompanhar as frequentes mudanças da modernidade. Além disso, também provou que não existe limite de idade para entregar uma boa e diversificada produção de música pop sul-coreana sem abandonar a própria identidade ou abrir mão de um conceito mais maduro e cheio de referências.
Entretanto, o mini-álbum vai além do cinema e propõe uma viagem ao metaverso, na qual U-Know assume suas diversas identidades em cenários múltiplos ao interpretar “Noah”, um protagonista de filme de ficção científica futurista. Neste enredo, sua única companhia é “Sarah”, uma inteligência artificial interpretada por Karina (aespa) que o acompanha em sua jornada distópica, em uma relação semelhante ao caso da IA do filme “Her” (2014), estrelado por Joaquin Phoenix.
Diferente da tradicional forma de promover lançamentos com um MV, U-Know vai além ao promover uma imersão no metaverso com um curta de 14 minutos, denominado “NEXUS”, que contém trechos de todas as seis canções que compõem o EP, inclusive a faixa-título “Vuja De”. Algo semelhante foi feito por Kai (EXO) em sua estreia como solista no disco autointitulado, com o highlight medley “FILM KAI”, e em seu mais recente álbum “Rover”. O novo lançamento de Yunho é uma espécie de medley de diversos cenários que exploram pontos intrigantes das coreografias que compõem cada canção do disco — e são uma forma interessantíssima de divulgar b-sides, sem necessariamente lançar um clipe para cada uma.
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Apesar da proposta ser similar a de outros artistas, “NEXUS” não funciona como apenas um método de mostrar coreografias ou somente trechos das canções de forma sequenciada, com um cenário cuja estética combina com a identidade visual do álbum. Esse curta-metragem tem, de fato, uma proposta mais cinematográfica ao criar uma linha narrativa que conta a história do protagonista que vive em uma realidade alternativa, com o objetivo de suprir as necessidades de adrenalina que o mundo real já não consegue mais proporcionar.
Sem toda a ação e as viagens ao metaverso, a vida do personagem Noah é triste, monótona e repetitiva em meio ao caos da modernidade. Somente as aventuras virtuais criadas por Sarah conseguem preencher o vazio imenso que assola o protagonista, que parece cada vez mais imerso no nesse universo.
A primeira faixa apresentada no curta é “Wannabe”, uma canção empolgante com bases de jazz e neo soul que se assemelha a outros trabalhos do TVXQ, como “Something” e “Spellbound”, que compõem o repackage do disco comemorativo de 10 anos de carreira, “Tense”, lançado pela dupla em 2014. Neste trecho inicial, o protagonista nos é apresentado com trajes modernos compostos, em especial, por óculos e uma jaqueta de piloto de corrida, associados diretamente a estética bikercore dos anos 80, combinada ao Y2K que retornou como uma tendência recentemente.
Inicialmente, soa estranho imaginar uma canção neo soul com um visual arrojado, mais vinculado ao hyperpop, mas Yunho trabalha muito bem a construção dos visuais para, de fato, parecer algo fora da linha — visto que, no metaverso, você pode ser qualquer coisa.
Na sequência do curta-metragem, temos a realidade de Noah em sua forma mais pura, enquanto conta com a companhia artificial de Sarah, que alerta o personagem acerca dos perigos de evoluir o sistema do NEXUS com frequentes atualizações. A busca por melhorias constantes em prol de experiências mais ousadas tem um quê de “Black Mirror” (2011), principalmente em relação à proposta do episódio “Striking Vipers” da 5ª temporada da série, que aborda a ideia dos jogos de realidade virtual. Também é possível citar como exemplo a light novel japonesa “Sword Art Online”, publicada em 2012.
Rompendo a sequência definida pela ordem das canções no mini-álbum, temos “Relax”, uma faixa que não é eletrizante como a anterior por se tratar de uma música no estilo dance pop com sintetizadores que remetem aos anos 80. Ainda assim, a canção transmite a melancolia da rotina do protagonista. Noah é apresentado em cenas repetitivas e completamente inexpressivo, vivendo sua vida para além da inteligência artificial e do metaverso.
Uma das cenas mais interessantes do material audiovisual de U-Know, e talvez algo passível de ser considerada uma ponte para finalmente nos levar a mergulhar no universo da faixa-título, é a batalha simulada de Noah em um navio de carga. Nesta sequência, ele incorpora o papel de um agente secreto em meio a uma operação, no qual o objetivo é se infiltrar na sala de controle, assim como qualquer jogo ao estilo FPS (First-Person Shooters) com níveis de dificuldade variados.
Em um dos momentos de ação, U-Know aparece ensanguentado, cheio de adrenalina e lutando sozinho contra inúmeros soldados armados. Não tinha faixa melhor do que “Tarantino” para ilustrar a cena. A canção é uma ode ao diretor de cinema Quentin Tarantino, responsável por filmes icônicos e carregados de violência como “Django Livre” (2012), a duologia “Kill Bill” (2003–2004)” e o clássico “Pulp Fiction” (1994) — cuja cena de dança de John Travolta e Uma Thurman é recriada por Yunho.
Conforme o próprio U-Know afirmou na conferência de imprensa do lançamento, a ideia da canção principal é basicamente subverter a lógica do déjà vu. Ou seja: ao invés de sentir como se você já tivesse visto algo antes, neste caso, você vê algo que já conhece, mas, de repente, sente-se estranho quanto a isso.
Essa parte do curta é um clamor a musicais extraordinários da Broadway, uma possível referência ao filme “O Rei do Show" (2017), estrelado por Hugh Jackman, com um toque de “O Grande Gatsby” (2013), protagonizado por Leonardo DiCaprio. Ambos os filmes conseguem descrever a grandiosidade desse espetáculo apresentado por U-Know, com "Vuja De", uma title que se inspira profundamente no jazz, algo semelhante à canção “The Chance of Love” do TVXQ.
Os figurinos, a montagem, a coreografia, a paleta de cores e a construção dos cenários combinados a música são um espetáculo audiovisual rico em detalhes e compensa tranquilamente a ausência de um clipe exclusivo para a faixa.
Ao final do curta-metragem e em contraste ao espetáculo circense apresentado pela faixa-título, no mundo real, Noah dá seus últimos suspiros preso à máquina e completamente distante da realidade, com a mente aprisionada no metaverso mesmo após seu corpo abandonar a vida completamente.
A faixa ‘Curtain’ é a trilha sonora do momento em que Noah é apresentado em um set de gravações mesmo com o corpo completamente sem sinais vitais e a alma presa no metaverso, uma intrigante referência a película "O Show de Truman" (1998) protagonizada por Jim Carrey. A faixa é a única ballad lenta e com instrumentais de jazz e blues. Os créditos tomam a tela como se o curta-metragem tivesse chegado ao fim de forma triste e imutável, e assim, ‘NEXUS’ chega ao fim.
Um rei à frente de seu tempo
O trabalho cauteloso do artista em demonstrar constante inovação e amadurecimento, mesmo com 20 anos de carreira, é um exemplo a ser seguido por rookies e seniors do K-pop. Jung Yunho prova que não é preciso modificar completamente a própria identidade para seguir tendências, amadurecer o próprio trabalho e manter a qualidade apreciada por críticos e pelo público por anos.
A incansável busca pela inovação não é páreo para os pioneiros da indústria, e novas conquistas jamais apagarão os feitos daqueles que abriram as primeiras portas para que a indústria sul-coreana do entretenimento alcançasse novas fronteiras. Independentemente de números ou fatores banais, a boa música e o trabalho duro de Yunho neste disco merece todo reconhecimento e apreço. De fato, não é fácil pensar em um conceito tão complexo.
O próprio U-Know revelou sua ideia em trabalhar com uma proposta mais voltada para a ficção científica desde o fim de seu serviço militar obrigatório, em 2017. Seu projeto ‘Noir’, que deu forma e construiu uma identidade musical e visual mais clara e intrigante para seu trabalho.
O mini-álbum é um dos melhores quando se trata de dialogar a estética com as canções, e a faixa principal ‘Thank U’ é um grande refresco para fãs de filmes leste-asiáticos sobre gangues e vingança. Ele assume o papel de um herói errante em um cenário que remete a películas de máfia como o clássico ‘Livrai-nos do Mal (2020)’ de Hong Wonchan.
Sua paixão pela música e pelo cinema são foco em sua carreira solo desde o segundo mini-álbum e tem tomado proporções impressionantes, valendo a menção ao fato de que a primeira exibição de “NEXUS” e a coletiva de imprensa ocorreram em uma sala de cinema.
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Mesmo com a negligência por parte da agência, o TVXQ segue resiliente
É injusto que um trabalho tão interessante e fora da curva — que deveria ser apreciado por permanecer por tanto tempo no K-pop — seja alvo de negligências da própria agência. Foram dois anos e meio de espera por um comeback de U-Know e já faz aproximadamente cinco anos desde o último lançamento coreano do grupo, visto que ‘New Chapter #2: The Truth of Love’ foi lançado em celebração ao 15º aniversário de carreira da dupla.
O foco nos lançamentos nipônicos não é um problema até relembrar que o TVXQ ainda é um grupo musical da Coreia do Sul, a distância entre lançamentos torna-se um fator um tanto problemático e de responsabilidade total da SM Entertainment, que tem o péssimo hábito de negligenciar seus artistas, em especial, os mais antigos.
Recentemente, Changmin comentou em sua participação no programa Daebak Show de Eric Nam que vinha insistindo para a agência realizar o comeback comemorativo de 20 anos de carreira da dupla em 2023, algo que deveria partir da própria empresa na elaboração do calendário de lançamentos. Mas, aparentemente, não adianta dar cargos de direção para Changmin e U-Know, já que não existe a possibilidade de tomarem as rédeas das atividades do selo TVXQ e suas respectivas carreiras solo.
O trabalho duro de U-Know é muito mais do que uma agenda mal programada e a falta de atenção de uma agência que deveria valorizar seus artistas independentemente da idade ou quaisquer outros fatores. O disco ‘Reality Show’ é sem sombra de dúvidas um projeto grandioso e que reflete a paixão ardente de Jung Yunho pela música e suas mais diversas nuances.
O que achou do curta ‘NEXUS’ e da pequena amostra das músicas que compõem o álbum ‘Reality Show’ de Yunho? Comente com o Café com Kimchi em nossas redes sociais!
Nota: Lembrando que o papel da nossa crítica, independente de positiva ou negativa, é apontar elementos para você construir a sua opinião sobre aquela obra; seja uma música de K-pop ou dorama. Então, tá tudo bem concordar ou discordar de tudo o que a gente disse aqui, mas não esquece de dizer o que você achou desse lançamento nos comentários, no Twitter ou no Instagram do Café!
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